Brandon Flowers é e será sempre conhecido por ser o vocalista dos Killers, que há mais de 10 anos surgiram em cena com Hot Fuss, que prometeu uma banda para cruzar, com qualidade e entusiasmo, o rock, o pop e uma linguagem electrónica. Todos envelhecemos, eles também, e os Killers não voltaram a soar tão frescos.
Flowers lança agora The Desired Effect, o seu segundo disco a solo, depois de Flamingo, de 2010. As coordenadas são as mesmas, partilhando naturalmente muito do ADN da sua própria banda.
Normalmente, o que esperamos quando ouvimos o álbum a solo do vocalista de uma banda de sucesso? Existirão muitos motivos, mas um dos mais naturais será o artista em causa buscar uma mensagem mais pessoal, mais íntima, e eventualmente com algumas diferenças da sua banda de origem.
Temos, de facto, alguns dos elementos desse fenómeno neste disco. O tom é menos abstracto e mais confessional do que com os Killers, com Flowers cantando sempre na primeira pessoa, procurando envolver o ouvinte no seu percurso, narrado ao longo de 10 temas. O problema – sim, aqui começam os problemas – é que Flowers conta histórias estereotipadas, sem nunca nos conseguir convencer de que está de facto a falar de si próprio. Temos narrativas de deixar tudo para trás e partir em estradas poeirentas à descoberta da América, histórias de trabalhadores humildes que tudo o que querem é ganhar o salário da bomba de gasolina para suportar a família (ou levar a garota gira da vilória ao cinema, na sexta-feira à noite). Temos histórias de amor, várias, de descoberta pessoal, também. O problema é que Brandon Flowers nunca é genuíno. São raros os pedaços de poesia (leia-se, das letras) que conseguimos acreditar serem realmente sentidas, e não apenas decalcadas de um qualquer filme de um qualquer rebelde sem causa. Das duas uma: ou Flowers é assim mesmo, unidimensional e básico, e está a ser honesto; ou, a versão para a qual mais nos inclinamos, está apenas a adoptar uma pose gasta que lhe parece ser cool mas que redunda num enorme cliché.
Musicalmente, temos rock e pop, com algumas baladas e uma produção altamente cuidada e alimentada a electrónica de ponta. A matriz de partida é o ‘storytelling’ de Bruce Springsteen, uma influência assumida pelos Killers e claramente reconhecível em “Between Me And You” e em “Dreams Come True”, que abre este The Desired Effect. Visto por aí, o disco não começa mal. O problema é que os melhores temas de Flowers são aqueles nos quais soa ao boss. O resto é um pop electrónico sempre com uma razoavelmente boa ideia de canção por trás, mas recorrendo a sintetizadores, efeitos e malabarismos que provam que o rapaz voltou a cair de amores pela terrível década musical dos anos 80. Pior do que isso, consegue em “Lonely Town” cometer o pecado capital em qualquer artista que queira ter o mínimo de credibilidade: cantar com um descarado e foleiríssimo auto-tune.
The Desired Effect é um disco estranho. Se o efeito desejado foi um mergulho descomplexado na pop dos anos 80, com um disco de canções facilmente memorizáveis e trauteáveis, então conseguiu-o. Se o objectivo era fazer o tal disco pessoal, falhou redondamente. É impossível fazer algo real debaixo de tanta popalhice e artifício sintetizado e plástico (olá, Duran Duran). Nem Las Vegas é New Jersey nem Flowers é ou virá a ser Springsteen.
Em suma, recomendado para os fãs de Killers com saudades de malhas bem comerciais a roçar o rock (ou o pop) FM, para ouvir sem complexos.
Quanto aos restantes, este The Desired Effect dificilmente terá qualquer relevância.