Dan Bejar fez-nos esperar quatro anos pelo sucessor do magnânimo Kaputt. Uma maldade de todo o tamanho, tanto que, sabendo disso, algures pelo meio atirou-nos um EP para acalmar a ansiedade. Se foi essa a intenção, ou de desviar atenções, o tiro saiu ao lado, apenas servindo para aguçar a curiosidade do que aí vinha.
Eis então que, no ano da graça de 2015, nos chega Poison Season, décimo álbum da carreira. Com as suas particularidades, os seus recantos, as suas subtilezas, os seus momentos de êxtase, está lá um pouco disto tudo. Bejar sempre apostou em rechear as suas melodias com muita substância através da utilização de vários instrumentos, o que permite encontrar, dentro de cada música, momentos díspares (vide “Midnight Meets the Rain”). No caso específico deste álbum, a aposta em utilizar orquestra nalgumas músicas, dando especial ênfase aos arranjos de cordas (destaque para “Hell”) é uma variação que me parece bem conseguida, sobretudo pela qualidade sonora da mesma. “Dream Lover” dá o mote de arranque e conquista logo pela euforia, à qual é impossível resistir, para logo a seguir esvaziar o balão de oxigénio com uma minimalista “Forces From Above”, em crescendo. A nostalgia sempre foi uma das grandes forças a emergir da sonoridade dos Destroyer e aqui sente-se em vários aspectos, indo buscar muitos elementos a Roxy Music, Bowie, fazendo-nos sentir próximos dum final dos anos 70.
“Times Square” é a peça central do disco. E não só matematicamente (sétima música em treze que constituem o álbum), também pela utilização da mesma a abrir e fechar o álbum, dividida em dois e num diferente ritmo. E é também onde mais se aproxima de Kaputt, como que fazendo a ponte com o seu lado jazzístico, cheio de textura e ambiente sonhador de fim de tarde veraneante. A energia do disco perde-se um pouco na segunda parte do mesmo, atingindo mesmo um quase mínimo histórico em “Bangkok”, onde a voz prevalece e os outros elementos são perfeitamente residuais. Importante dizer que a voz de Bejar está, como sempre impecável, também ela um instrumento de plenos poderes e utilizada de diferentes formas ao longo de Poison Season, mas de facto essa quebra de energia é notória.
Good old Dan não sabe fazer um mau disco e também ainda não foi desta, mas o peso de suceder a Kaputt é duro de aguentar e como tal é bastante prazeiroso ouvir este Poison Season se conseguirmos por momentos esquecer as expetativas criadas.