Em Branco, recentemente editado, Cristina Branco embrulha e volta a dar: há colaborações, um olhar de fora no mundo da cantora, mas a essência, a estética e a beleza não são diferentes em demasia de repertório passado. Ao Altamont, Cristina explicou que Branco é este que nos apresenta em 2018.
Quem é a Cristina Branco de 2018 e o que é que Branco representa na tua já muito generosa e ampla carreira?
Sou a mesma, com mais “bagagem”, apesar de sentir que à medida que o tempo passa me vou aproximando da minha juventude. Estranho? Para mim basta pensar que o Branco, tal como o Menina, me trouxeram ar fresco, novidade. Trouxeram compositores de uma geração mais nova que a minha e que têm uma visão do mundo muito “novo-normal”, muito “isto é o que tenho, são estas as ferramentas e não tenho medo de experimentar nada. ‘Bora?”. Gradualmente esta atitude influenciou (falo do André Henriques, Cachupa Psicadélica, Luís Severo, …) a minha sonoridade, de repente fui atrevida e pus-me do lado deles a olhar o mundo e isso fez-me sair de um limbo.
Menina, o anterior disco, ainda estava relativamente fresco. Nem chegou a dois anos de espera até chegarmos ao novo álbum. Não sentiste necessidade de contemporizar mais um pouco ou pura e simplesmente quando tens matéria-prima sentes que esta deve estar cá fora o mais cedo possível?
Seguir uma tendência que nos favorece é bom. Foi a enorme criatividade dos autores do Menina, são pessoas que estão viradas para o “agora” e é do agora que quero falar. Quis manter o fio condutor e intencionalmente construir um disco que falasse deste tempo (o deles e o meu), que fizesse essa ponte sem preconceitos ou ajustes de contas. Pensei que é bom arriscar e havendo coisas para dizer, por que não ousar?
O que é que os compositores de fora te trouxeram? Às músicas em concreto mas até a ti enquanto compositora, intérprete e artista.
Trouxeram o salvo-conduto para um som novo. Juntar aqueles nomes ao meu seria pouco provável, mas se pensarmos que o caminho que sempre fiz foi o da descoberta, faz mais sentido. O meu percurso e a constante curiosidade sempre fizeram de mim uma cantora fora do “pote” do fado, eu acho. Sem vaidade ou soberba, apenas porque cresci ouvindo de tudo e o fado foi sempre devido à língua e à magnífica Amália e à maneira magnética como contava histórias através da música, do fado. Por isso, rock, indie, hip-hop não podem ser um desvio, são o caminho daquilo que eu considero ser o tal novo-normal.
O que é que os compositores de fora te trouxeram? Às músicas em concreto mas até a ti enquanto compositora, intérprete e artista.
Acho que é a minha liberdade, o meu gosto eclético que já referi, a minha incessante curiosidade. O tempo guia o Branco, falo muito de ausência de preconceitos e falando com todos estes autores e observando de fora, friamente, a sua escrita, acho que o que salta é esse pé de igualdade, essa ausência de género e multiplicidade de cor das suas letras. É o estar na vida sem meias tintas.