Escrever sobre Parallel Lines é escrever sobre um dos melhores discos de Pop-Rock alguma vez feitos. Aparece em todas as listas dos álbuns mais importantes de sempre, e não admira que assim seja, uma vez que os seus 12 temas são tão fortes e poderosos que todos eles poderiam ter sido singles. Com o toque de Midas do novo produtor Mike Chapman, e com a entrada definitiva de Frank Infante para as guitarras e de Nigel Harrison para o baixo, Parallel Lines conquistou o mundo, e nesse tempo os Blondie eram a maior banda Pop ao cimo da terra. Até a capa do disco é uma obra de arte, mostrando cinco rapazes felizes e uma mulher – e que mulher, meu Deus -, vestida de branco, mãos nas ancas, e ar de poucos amigos, sob um fundo de linhas paralelas brancas e pretas.
Os Blondie surgiram, neste trabalho de 1978, com um som mais polido, mais condizente com o génio das suas produções, e são célebres as horas e horas que ficaram em estúdio a gravar cada tema, até que saíssem autênticos diamantes pop. Mike Chapman não lhes dava tréguas, pois percebeu bem o potencial imenso que tinha à sua frente. Vejamos: “Hanging On The Telephone”, “One Way Or Another”, “Picture This”, “Pretty Baby”, “Sunday Girl” e o inevitável “Heart Of Glass” são temas que ainda hoje o mundo sabe cantar, e canta. Poderia referir os restantes seis que fazem parte do alinhamento original de Parallel Lines, mas não vale a pena, para já, uma vez que o disco não precisa de muitas apresentações. No entanto, ao atingirem a fama mundial pela primeira vez, os Blondie começavam a revelar interiormente marcas das suas frágeis e problemáticas personalidades artísticas e humanas. O sucesso pode fazer mal, e Parallel Lines encarregou-se de mostrar que o caminho da fama traz quase sempre um preço que custa pagar.
Eu tenho em minha posse 5 edições de Parallel Lines. O meu interesse completista é uma característica marcante da minha personalidade, e quase uma idiossincrasia. Tenho-o em vinil (do tempo da minha juventude), e ainda em quatro versões em cd: a básica, de 1985; a remasterizada, de 2001, que inclui quatro canções extra; a Deluxe Collector’s Edition, com temas bónus e dvd, de 2008, e finalmente uma edição distribuída pelo jornal britânico The Mail, em 2010, incluindo canções do disco Panic of Girls, que sairia nesse mesmo ano. Poderão pensar que esta profusão inusitada de um mesmo disco é manifestamente exagerada, e na verdade também eu entendo assim. No entanto, o meu amor por este álbum não tem tamanho, e por isso é bem natural que não vá ficar por aqui, assim o mundo discográfico me dê motivos para novas aquisições. É fácil perceber: “Hanging On The Telephone” é uma delicia rock que nos coloca aos saltos logo aos primeiros segundos, e “One Way Or Another” mais ainda. Depois vem “Picture This”, uma das canções da banda que mais idolatro. Não apenas a canção, mas também alguns versos como “All I want is a room with a view / A sight worth seeing, a vison of you”, e isso mostra bem o que eu sentia, nos meus teen years, em relação à banda, e sobretudo em relação a Debbie Harry, que povoou os meus sonhos mais inconfessáveis durante bastante tempo. “Fade Away (And Radiate)” é um momento cool, menos rockeiro, canção mais séria de uma banda que já sabe o que quer (com a preciosa ajuda do seu produtor) e que dispara certeiramente em todas as direções. “Pretty Baby” lembra os anos 60, enquanto “I Know But I Don’t Know” é uma canção histórica, uma vez que é exemplo único da contribuição exclusiva de Frank Infante ao longo de toda a sua história como membro dos Blondie. “11:59” sempre me fez cantar, e ainda hoje sei os seus versos sem ponta possível de engano, pelo que não resisto a referir os que mais adoro: “Today can last another million years / Today could be the end of me / It’s 11:59, and I want to stay alive”. A urgência sentida nos versos desta canção ainda hoje a tenho como ensinamento para algumas circunstâncias da vida. É que uma canção pode não ser apenas uma canção, e um disco pode não ser apenas um disco, daí a importância deste durante toda a minha juventude. Eu vivi-o! Vivi o Parallel Lines, percebem? E isso é de uma enorme importância sentimental. Depois vem “Will Anything Happen” e os diamantes eternos que são “Sunday Girl” e “Heart Of Glass”. O que dizer destas duas canções? E se ainda houver algo para dizer sobre elas, isso será para um outro momento que não este, uma vez que ouvi-las pela enésima vez me parece bastante melhor. Quase a acabar, “I’m Gonna Love You Too”, espécie de canção que diz precisamente o que sempre senti por este disco e pela banda que o fez: amor eterno e intemporal (a redundância é assumida e propositada)! Finalmente, “Just Go Away”, a canção perfeita para acabar um disco de perfeição Pop, quase sugerindo que o fim de um disco não é o fim do mundo. O verso “Don’t go away sad” resume bem o que pretendo dizer. Quando terminava a canção, sempre podia começar de novo a ouvir o disco por inteiro, e isso era sempre uma coisa boa.
Com Parallel Lines os Blondie assumiam a liderança, e subiam ao top da mais importante nova banda do mundo. E assim, o meu pequeno mundo adolescente satisfazia-se plenamente ouvindo os Blondie até à exaustão, e este Parallel Lines em particular. Não precisava de mais nada, acreditem.