No meio do período turbulento pelo qual o mundo está a passar, os Animal Collective viram-se para dentro em busca do silêncio.
Tem sido um ano intenso para os Animal Collective. Com as gravações do seu próximo disco de estúdio interrompidas devido à quarentena, o grupo nunca teve tanto tempo para se virar para trás e reavaliar a sua carreira, resultando no lançamento recente de dois concertos de 2001 e 2002, assim como a disponibilização da sua discografia no Bandcamp. Tem sido um período fértil para o grupo. Os quatro membros têm carreiras a solo cada vez mais desenvolvidas e os trabalhos recentes do grupo continuam a estrear configurações novas do mesmo, assim como sonoridades novas, nem sempre bem conseguidas.
Bridge to Quiet nasceu também desse processo de introspeção, consistindo numa colagem de improvisos gravados entre 2019 e 2020, à semelhança do disco Spirit of Eden dos Talk Talk. Esta origem artificial poderia resultar num EP inconsistente em termos de qualidade e atmosfera, não fossem os Animal Collective um grupo com um ouvido extremamente apurado para detalhes sónicos e com uma visão muito concreta daquilo que querem fazer.

O drone que permeia o desapontante Tangerine Reef aparece neste disco que parece repetir a sua fórmula mas, talvez por o EP se tratar de uma experiência exclusivamente auditiva, houve um maior cuidado para tornar estas paisagens sonoras mais interessantes. Das trevas escuras, surge uma batida submarina (aliás, muito deste disco parece ter lugar debaixo de água), que dá início a “Rain In Cups”, uma balada pontuada por vozes fantasmagóricas e camadas subtis de teclados. A faixa-título é também edificada numa paisagem sonora de sintetizadores distorcidos, batidas enérgicas e uma guitarra eternamente reverberante, uma combinação que lembra “Peacebone” de Strawberry Jam. A canção destaca-se por ser a única a contar com a voz mágica de Panda Bear que, de resto, tem andado desaparecido dos projetos do grupo.
“Piggy Knows” destaca-se, não só por ser a canção mais estruturada, mas também por ser a mais orelhuda, remetendo aos excessos pop dos anos dourados da banda. Depois de uma longa introdução daquilo que parece um hurdy-gurdy glitchy, Avey Tare começa a cantar, acompanhado por um conjunto de instrumentos pouco definidos. As flautas gaguejam e os backing vocals sobem e descem como um baloiço, a bateria é também a linha de baixo.
Bridge to Quiet está longe de ser um statement artístico portentoso, mas é um esticar de pernas de uma banda que não consegue ficar quieta durante muito tempo.