Sexta-feira à noite, Lisboa em alvoroço com o Vodafone Mexefest. 50 bandas para ver em dois dias, muita coisa a acontecer, escolhas importantes para fazer. À partida para este concerto, conhecia apenas fragmentos de uma canção. Mas um amigo, cujo gosto musical respeito, já me tinha falado tremendamente bem destes tipos e decidi ir espreitar. Fui cedo, para garantir um bom lugar e no final, desdobrei-me em agradecimentos ao meu amigo, por me ter levado a ver um dos melhores concertos do ano, de uma das maiores revelações do ano. King Gizzard & The Lizzard Wizzard!! Um nome a fixar, sem dúvida vão dar que falar nos próximos tempos. Mas, ainda antes de ter recuperado o fôlego, assim que acabou o concerto fui tentar a minha sorte, a ver se algum dos sete me dava uma entrevista. Enquanto o vocalista posava para fotos com as fãs, o baixista falou ao Altamont, levou um cartão nosso e decerto vai passar a seguir-nos online. Lucas Skinner (na foto de cima é o de barba) é o baixista da banda e o que se segue é uma espécie de flash interview, como as que se fazem depois dos jogos de futebol, centenas de perguntas ficaram por fazer, mas guardamos isso para o regresso deles. Por ora, demos o primeiro mergulho no universo King Gizzard.
Altamont: Esta é a vossa primeira vez em Portugal. Que tal achaste o concerto?
Lucas Skinner: Gostei imenso, foi um grande concerto, o público foi fantástico, muito interactivo, divertimo-nos imenso.
A vossa música assenta muito em linhas baixo e bateria constantes, serpenteantes. O vosso objectivo é hipnotizar-nos?
Um bocado, sim (risos). Gostei dessa descrição, de baixo e bateria quase monótonos a conduzirem o groove, e depois as vozes e guitarras a vaguear por cima, quase como serpentes. E sim, e as coisas acabam por fluir de forma meio hipnótica. Às vezes, nós próprios ficamos hipnotizados.
E quanto ao vosso nome? É pouco usual…
Sim, começou como uma piada. Nós não éramos uma banda muito séria, só tocávamos em festas e divertíamo-nos, e pensámos no nome mais ridículo que conseguimos, por piada, mas acabou por pegar e agora a piada virou-se contra nós. Mas nós também gostamos de gozar connosco próprios.
Vocês vêm da Austrália, de onde têm saído imensas bandas boas. O que é que se passa lá para haver tanta criatividade?
Há imensas bandas óptimas a sair de Melbourne, é uma cidade incrível com uma cena musical impressionante, há imensas bandas, milhares de bandas a tocar e ensaiar todas as semanas. Há muita gente criativa a fazer música e arte em Melbourne, mesmo muita gente, portanto pelo menos alguns vão ser realmente bons nisso. Mas também há bandas como Tame Impala e Pond que vêm de Perth, que é quase o oposto, é tão isolado de todas as outras cidades, é como uma pequena bolha e como não não têm muito mais para fazer, Perth transpira criatividade, mas duma forma diferente de uma cidade cosmopolita como Melbourne.
E vocês, King Gizzard, estão nisto da música para ficar?
Definitivamente. Estamos nesta altura a trabalhar no novo álbum e é muito “jammy”, é quase só músicas de 10 minutos.
E já tocaram alguma coisa nova em Lisboa?
Não, nada desse álbum. A maioria dos temas que tocámos hoje é do nosso álbum [I’m In Your Mind Fuzz] que está prestes a ser editado na Europa. Mas o novo tem muitas jams, mas não a todo o gás, são mais jazz e mais intricadas, talvez mais ‘bonitas’. São diferentes, muito centradas nas guitarras, mas não com o som demasiado cheio.
Já com o gravador desligado, Lucas Skinner ficou mais uns minutos à conversa e contou que os King Gizzard preferem tocar em salas como esta (Garagem da Epal, nos Restauradores), sítios fechados onde o som não se perde e onde o público está mais em cima da banda. Mas por razões de indústria musical, eles devem regressar à Europa no próximo Verão, para tocar em Festivais, provavelmente em Junho ou Julho. Não é mau, por essa altura calha a haver alguns festivais interessantes em Portugal. Enquanto eles não regressam e o novo disco não sai, podemos sempre ouvir os registos que eles já têm gravados aqui e aqui. Mas não se deixem enganar. Eles são cem vezes melhor ao vivo!