
Encontrámos David Francisco este Verão, a apresentar o seu novo projecto no Fusing Culture Experience. Com um disco já lançado enquanto When The Angels Breathe, intitulado The Wolf, este músico português falou connosco acerca do seu processo de composição a solo, da formação que o acompanha ao vivo e do que planeia para o futuro.
Altamont: Primeiro concerto agora em Agosto no Fusing, nova formação em palco… custou chegar até aqui?
David Francisco: Custou muito chegar até aqui, sim, mas foi um desafio muito interessante. Quando estava a compôr o disco nunca imaginei que surgisse um convite para vir tocar a festivais, e quando surgiram esses convites senti necessidade de elevar a fasquia, fazendo concertos em grande com uma banda grande, com músicos fantásticos como os Opus Diabolicum, que são maravilhosos.
Se tivesses de explicar o que é When The Angels Breathe a alguém que não conhecesse a vossa música, como a apresentavas?
É um projecto de música ambiental, onde cada pessoa pode fazer a sua viagem de maneira diferente. Cada pessoa consegue ouvir uma música de When The Angels Breathe e fazer as suas próprias viagens.
Fazes parte dos Uni_form. Porque é que decidiste investir neste projecto a solo?
Já antes dos Uni_form tinha um projecto a solo, que se chamava Umbigu, e lancei dois álbuns a solo na altura, numa onda de electrónica muito minimal. Mas senti necessidade de explorar outros estilos de música. Sou muito ecléctico e sentia necessidade de ter uma banda mais metal, mais post-rock, com um rock mais agressivo, com guitarras fortes e melodias bonitas e… pesadas. E, pronto, a ideia de fazer este projecto foi juntar o útil ao agradável. E juntar o metal com o post-rock. Sentia necessidade de fazer um projecto onde pudesse tocar todos os instrumentos, onde pudesse decidir o que cada instrumento está a fazer, o que não é fácil quando estás a trabalhar com uma banda. Aí isso não é possível fazer, porque todas as pessoas têm de dar o seu input. Aqui estou totalmente no meu mundo, posso compor como me apetece. Se quiser compor uma música só com uma guitarra posso fazê-lo, se quiser fazer uma música só com uma bateria também o posso fazer. Tenho muita liberdade criativa, e foi isso que me aliciou a ter este projecto. Acho que todos os músicos têm vontade de ter o seu refúgio, de fazer aquilo que lhes apetece sem ter de dar justificações a alguém. Fazeres simplesmente o que tu sentes. Este projecto é o concretizar de um sonho, estou acompanhado por pessoas que respeitam o que eu estou a fazer, que admiram a música que eu faço – como eu admiro a que eles fazem – e isso é das melhores coisas que podes ter: pessoas que são fantásticas e te dão apoio, gostam do que fizeste e respeitam isso. E que gostam do que fazem, também.
E é daí também que vem a tua formação ao vivo, não? Foi difícil chegar a essa formação?
Foi, foi. Foi um desafio que fiz a mim próprio: tinha de arranjar as pessoas perfeitas. E neste momento sinto que estou acompanhado pelas pessoas perfeitas.
Surgiu neste teu projecto uma colaboração com os Opus Diabolicum. Como é que isso aconteceu?
Os grandes Opus Diabolicum… olha, nós partilhávamos uma sala de ensaios. Tocamos todos na sala de ensaios dos Moonspell. Os O.D. andavam na estrada com os Moonspell, ensaiavam também naquela sala e criámos laços de amizade. A partir daí surgiram participações deles nos Uni_form, e então decidi juntar o útil ao agradável: porque não juntar os Opus Diabolicum às melodias de When The Angels Breathe? Acho que o casamento foi perfeito, eles são excelentes músicos, adaptaram o estilo deles muito facilmente ao formato When The Angels Breathe e acho que está a correr muito bem. Espero que isto seja o início de muitos espectáculos e de muita diversão, acima de tudo, para aproveitar estes momentos.
Qual seria a tua colaboração de sonho, para partilhar o palco?
Os Explosions in the Sky. Ou então os Mogwai. Para mim são grandes referências do post-rock e da música em geral.
Teres uma formação alargada ao vivo pode alterar a tua forma de compores e fazeres discos no futuro?
Sim, eu vou um mudar um bocadinho a forma de compor. Com os músicos que tocam comigo aprendi a simplificar um pouco mais os temas e a fazer com que eles soem melhor. Neste primeiro disco cometi um grande erro, que foi complicar muito a bateria. Se eu quiser pôr dois bateristas a tocar ao mesmo tempo, posso fazê-lo. E o que o João (baterista da formação ao vivo) sentiu foi que eu estava a complicar demasiado. Isso também se adapta às guitarras. Eu neste disco aprendi muito com eles e vou sentir necessidade de simplificar mais as coisas, e se calhar até de gravar com eles. O projecto continua a ser meu mas vou ter participações das pessoas com quem mais gosto de estar. Um dos projectos de futuro é a gravação do The Wolf ao vivo, já com os Opus Diabolicum.
E o que é que achas que te distingue de outros projectos nacionais de post-rock?
Acho que When The Angels Breathe se distancia um pouco desses projectos, nomeadamente porque temos uma sonoridade algo diferente do post-rock mais mainstream; é uma sonoridade mais melódica, com essas melodias a levarem para outros caminhos. Sou muito ecléctico e acho que as influências tão diferentes que tenho se reflectem neste projecto.
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Entrevista: Gonçalo Correia e Alexandre R. Malhado
Fotos: Alexandre R. Malhado