Altamont: Como nascem os Ermo? Sempre deambularam pelo mundo da música e a certa altura decidiram ir mais além ou foi uma coisa mais imprevista?
Ermo: Os Ermo nasceram muito pouco depois de nos conhecermos. Ambos já tínhamos tido projectos ligados à música, mas sem nada bastante sério. O Bernardo já tinha feito algumas experiências na electrónica tendo editado alguns EPs por editoras online e eu fazia black metal mas nunca nada realmente ambicioso. Mas sim, pode-se dizer que foi algo imprevisto, visto que não foi um som pensado a priori.
Tendo em conta a vossa originalidade sonora e lírica, destacada não só nos vossos trabalhos mais antigos (veja-se “Carpideira”, por exemplo) como neste mais recente, acham plausível dizer que vocês podem estar a abrir novas portas no mundo da música portuguesa?
Esperamos bem que sim, visto que essa é a premissa do projecto. O próprio nome “Ermo” denota isso. Um lugar ermo é um lugar desabitado, deserto, e é esse o posicionamento que queremos ter na música portuguesa: estar a fazer algo que ninguém, supostamente, está a fazer, apesar de nos apoiarmos em estruturas básicas da música tradicional portuguesa e da pop actual.
Como nasceu a vossa associação ao Adolfo Luxúria Canibal, o vosso “padrinho” musical?
Nós conhecemos o Adolfo no contexto da compilação bracarense “À Sombra de Deus” e desde cedo ele mostrou interesse pelo som que estávamos a desenvolver. Sendo ele também uma enorme referência para nós, essa associação surgiu naturalmente e é uma honra estar, de certa forma, ligado a ele.
O que podemos esperar de Vem por Aqui?
A ouvir o nosso álbum de estreia, podem esperar uma espécie de sequela ao EP que lançámos no ano passado. Já não é um disco conceptual, mas é um trabalho cuidado de retrato de um Portugal degradado e, portanto, uma espécie de espelhar da realidade nacional actual e acho que todos nós nos poderemos rever um pouco em algumas letras do disco.
Consideram-se músicos primeiro e poetas depois ou o contrário?
Não somos nem músicos nem poetas. Ou, pelo menos, não nos cabe a nós fazer esse juízo, parece-me. Mas, de facto, normalmente, as ideias surgem antes das notas e, de certa forma, fazemos música porque foi a forma mais divertida para nós de apresentar os nossos pensamentos e ideias que queremos partilhar. Portanto, se somos poetas, agradecemos esse rótulo e se somos músicos, é muito por acaso.
Que caderninho preto é aquele que te acompanha sempre ao palco, António?
O caderno que costumo levar para todos os concertos é um bloco pessoal no qual escrevo e quando se tratam de textos mais extensos e que gosto de os recitar e o faço em concertos, gosto de o fazer a partir desse suporte. Acho que dá um bom efeito visual e faz parte da mística do próprio concerto que tem sempre uma forte componente teatral.
E referências musicais? Quais as mais recentes e as mais antigas?
Nunca gosto muito de me estender muito a falar sobre influências, visto que não ajudam realmente a compreender a música que fazemos. É claro que temos uma forte base na música tradicional portuguesa à qual damos a cheirar laivos de pop, mas somos pessoas que ouvem bastante música e, como tal, não sei, realmente, dizer de onde vem o quê.
Nota-se um apertado patriotismo em tudo aquilo que produzem, o vosso single “Correspondência” mostra isso mesmo. Acham que estava a fazer falta nos dias difíceis que o nosso pais atravessa hoje, uma fonte de amor próprio por tudo aquilo que nos rodeia que fuja aos já bacocos clichés e estereótipos clássicos da bandeira e o hino nacional?
Talvez… Talvez não propriamente uma fonte de amor próprio, mas sim auto-reflexiva. Faziam e ainda fazem falta projectos que mostrem que Portugal é uma entidade que se pensa muito, por natureza, apesar de nos exceptuarmos cada vez mais dessa entidade colectiva. E contra nós mesmos falamos. O Zé Povinho somos todos nós quer queiramos, quer não, portanto mais vale assumi-lo que entrar numa negação ridícula.
Quem vos vai ver dia 7 de Dezembro pode estar à espera de que género de coisas?
Quem nos vier ver dia 7 de Dezembro pode esperar um espectáculo especial e muito, mas muito forte; melhorado em relação aos que apresentávamos previamente ao lançamento do álbum, até porque esta é uma ocasião que o merece e, como já fizemos durante a apresentação do EP, podem já ouvir temas novos, que vão fazer parte de um registo físico que vamos lançar depois do álbum.
(Fotos gentilmente cedidas por João Coroas)