Altamont: Para “four human beings from the rural parts of portugal”, como se explica a opção pelo sintetizador em vez do adufe ou da Harmónica? Ou seja, como começaram a entrar no maravilhoso mundo da música eletrónica?
Sensible Soccers: A ruralidade já não é o que era. Já há internet em todo o lado, e o acesso à música de todos os tipos democratizou-se. Mas a nossa relação com a música electrónica é não é algo de assim tão recente. Apesar de, como ouvintes, termos começado muito mais ligados a música orgânica, desde cedo nos apercebemos que os artistas que admirávamos integravam também elementos electrónicos com alguma frequência. Foi a partir daí que começou essa descoberta, que também passou por ir ao encontro do lado histórico da música electrónica, acompanhado com a descoberta de artistas e compositores mais contemporâneos. Essa descoberta foi-se fazendo ao longo dos anos com a rádio, com a internet, com os amigos, e de muitas outras formas. Mas nós continuamos a ser ouvintes eclécticos, gostamos de música de todos os géneros e continuamos a sentir o gozo de descobrir coisas novas, e de perceber que afinal gostamos de manifestações que pensávamos não gostar.
Sentem traços dessa ruralidade na vossa música hoje?
A ruralidade é o meio onde nos encontramos para trabalhar, e influencia-nos de formas pouco visíveis. Influencia os timings do nosso trabalho, e consequentemente a nossa música, mas não de uma forma que seja imediata e simples de perceber. Na verdade temos sempre dificuldades em apontar de forma directa o que nos influencia, porque somos influenciados por coisas muito diferentes.
Acham que a eletrónica continua quase um nicho no mundo da música ou que é cada vez mais “democratizada” com o surgimento de tantos nomes grandes (e consideravelmente consensuais) como James Blake, Nicolas Jaar, entre outros?
A electrónica deixou de estar num nicho há décadas. Basta pensar na pop mainstream dos últimos 30 anos e ver a influência nítida da electrónica por todo o lado. É claro que ainda há música electrónica fechada em nichos, mas isso é assim para praticamente todos os géneros, não é algo exclusivamente do domínio da electrónica. Num plano mais independente, talvez tenha existido uma resistência maior por parte do público, e de facto notou-se nos últimos anos uma maior abertura. Nunca reflectimos muito nisso, mas de facto pode ter tido que ver com o surgimento de artistas como os que referes, que conseguiram apelar a um público muito vasto.
Antes do novo álbum que já se avista vocês já tinham outros dois trabalhos construídos, Fornelos Tapes vol.1 e Sensible Soccers EP. Quais são as principais diferenças que vão notando na vossa evolução como músicos?
Sentimos que houve evolução a vários níveis, mas essa evolução talvez se note mais nos espectáculos ao vivo, que foram ganhando consistência ao longo do tempo, fruto também do facto de termos tido muitas oportunidades para tocar. Mas também sentimos evolução nos processos de trabalho – em alguns casos não tanta como gostaríamos – o que fez com que quer a criação, quer a gravação e produção deste disco tenham acontecido de forma diferente do que fizémos até agora.
Tidos por muitos como uma lufada de ar fresco no panorama musical e tendo em conta também a vossa crescente visibilidade consideram que esses dois argumentos são prova de que estamos a ficar mais ecléticos no que toca à abertura a coisas novas? O público consumidor de música em Portugal está a ficar diferente?
O facto de hoje em dia conseguirmos aceder a música em quantidades sem paralelo na história da humanidade tem tornado as pessoas mais eclécticas, e há cada vez mais gente interessada em conhecer aquilo que se faz em meios menos expostos. Isso é um fenómeno global, não nos parece de todo que seja uma questão local. Mas sim, isso faz com que tendencialmente o público se diversifique, e isso é óptimo para quem faz música.
Fazendo a ponte entre o futebol e a música, sentem-se mais uns “Cristianos Ronaldos”, mais explosivos e robustos, ou mais “Messis”, tecnicistas e subtis?
Somos fervorosos admiradores do Presidente Ronaldo, e também achamos o Messi um jogador do outro mundo. Talvez seja injusto para com eles colocarmo-nos num plano comparativo tendo-os como referência. Somos mais uma espécie de Sob Evariste Dibo, pela vontade em fazer face às adversidades naturais de uma equipa modesta, e as transformarmos em sucessos à nossa escala.
Numa entrevista antiga, declararam a vontade de um dia encher o Estádio dos Arcos. O Music Box, recinto que vos receberá dia 7 de Dezembro, não é propriamente a casa do Rio Ave, mas partilha quase do mesmo prestígio. O que podem esperar os vossos adeptos que lá estarão a torcer por vocês?
O concerto no Musicbox será dos primeiros desta nova fase em que vamos apresentar o novo disco ao vivo. Para além dos novos temas iremos ter também versões renovadas de temas mais antigos. De resto, esperamos conseguir apresentá-los com a entrega emocional que costuma ser imagem de marca dos nossos concertos.
Que veem no futuro dos Sensible Soccers?
Não tendo como adivinhar o futuro, gostaríamos de continuar a crescer de forma sustentada no panorama nacional, e de abrir caminho fora de Portugal. O desejo de internacionalização é algo em que temos tentado investir, e acreditamos que com este novo disco possam abrir-se algumas portas nesse sentido. Também esperamos conseguir reunir meios que nos permitam ser mais independentes do ponto de vista técnico, sobretudo no que toca ao processo de gravação. Nunca é demais referir a ajuda preciosa que tivémos de vários amigos que amavelmente nos disponibilizaram algum do seu material para podermos gravar este disco, mas se no futuro o pudermos fazer sem ter de pedir material emprestado, tanto melhor.
Ouvem-se rumores de que o vosso novo álbum terá uma edição especial em formato cassete? Podemos já rejubilar com a confirmação dessa novidade? Se sim, que vos fez seguir com essa ideia?
Podemos confirmar que o disco vai sair em vários formatos, ao longo dos próximos meses, com algumas particularidades em cada formato, mas ainda não vamos avançar que formatos serão esses nem os timings de edição. Quem tiver muita curiosidade pode vir ter connosco no dia 7 no Musicbox. Nessa altura já teremos certamente mais novidades para dar.
(Fotos gentilmente cedidas por Fábio Teixeira)
volto a dizer: melhor nome de banda de sempre.