Ruban Nielson, líder dos Unknown Mortal Orchestra e rapaz para os seus 32 anos, dizia recentemente à Pitchfork que não se considera um hippie. Isto apesar de ter já vivido com os dois filhos e a mulher num yurt de uma parteira, e apesar de ter uma atitude bastante despreocupada de gestão de vida, despreocupação essa que o levou a assinar um contrato de gravação num guardanapo de um bar.
Tal como os seus parceiros Tame Impala, ou como os companheiros da costa oeste Ariel Pink e Ty Segall, Nielson é, sem dúvida alguma, uma criança de tempo desfasado da era psicadélica. Ou seja, um ser de mente descontextualizada. E o seu passado numa banda punk da Nova Zelândia irrompe, apenas ocasionalmente, em canções pop suavemente electrificadas dos Unknown Mortal Orchestra – canções essas que parecem ficar cada vez melhores, por osmose e convivência intemporal com Beatles ou Led Zeppelin.
Depois de uma estreia bastante formosa, especialmente no mundo blogosférico, do seu primeiro disco, agora é a vez de II-The Second fazer brilharete. Lançado através da editora de referência Jagjaguwar, este disco, segundo consta, foi construído em breves trechos entre combinações e outros trabalhos externos à música. II começa alegremente ameaçador. “Isolation / He can put a gun in your hand”. É um refrão típico daquilo que podemos escutar neste disco. Melodias beatíficas e singelas, mas eventualmente carregadas de explosão melodramática e sem flores no cabelo. Já não vivemos a fantasia dos 60. Agora somos psicadélicos mas conscientes. Conscientes que a sobrevivência não depende apenas das drogas e da música.
“Swim & Sleep” (like a shark), primeiro single do álbum, disparou como uma flecha nas cabeças dos novos ouvintes da vaga psicadélica. Sendo um tema bastante Pop, é presumível que a grande maioria se tenha deixado encantar pela cativante melodia desta canção que conjuga sono, beleza e mal-estar em pouco mais que dois minutos. E como se isso não bastasse, logo a seguir, sem tempo para respirarmos bem do mergulho “Swim & Sleep”, toma lá outra proeza para encostar toda a gente à rede. E o melhor é que o fazem com meiguice! “So Good At Being In Trouble”. A partir daqui, o resto são reconfirmações…
Mas à medida que II se desenrola, há momentos em que Nielson se torna algo vago e ensimesmado. Será essa a arma secreta desconhecida dos Unknown Mortal Orchestra? Uma espécie de medo frio que os fundamentos e as passagens mais extravagantes de Nielson comprometam a coesão do restante opus?
Estamos, segundo a minha opinião (e uma opinião pode sempre ter mais ou menos seguidores- parece-me que esta terá bastantes) perante uma pérola do Rock-Pop-Psicadélico dos anos dois mil. Digo psicadélico por vários motivos, mas o principal resume-se à aproximação óbvia do género musical que bandas rock dos anos 60/70 produziram, em larga escala, nessa altura. Mas esse mesmo rótulo poderia significar um defeito no fabrico ou um amargo de degustação. Felizmente, não é essa a sensação com que ficamos, ao conhecer este segundo trabalho dos U.M.O. Contrariamente ao que aconteceu com o segundo trabalho dos australianos Tame Impala, II transporta novidade absoluta. As melodias são muito coesas, o que em canções repetitivas não é de todo tarefa fácil, e os arranjos lo-fi etéreos acrescentam êxtase à sensação de magia intelectual. Rico, podemos dizer. Esta pérola vem da raridade e do seu valor.