Comedown Machine é o quinto disco dos Strokes, e o segundo da nova Era. Podemos considerar como primeira Era o período 2001-2006, em que foram lançados os 3 primeiros discos. 2006-2011 foi tempo de pausa para reflexão, para cada um dos membros da banda experimentar projectos a solo, para andarem à zaragata uns com os outros. Em 2011 editaram o primeiro disco da nova Era, e agora lançam o segundo.
Comedown Machine é um bom disco, mas não é o melhor dos Strokes. Ainda assim é o melhor desta nova Era. Angles, de 2011, não sendo um disco mau, é o pior da carreira dos Strokes. Deu a sensação que esse disco foi gravado porque tinha de ser, porque tinham passado 5 anos sem os Strokes lançarem um novo disco e muita gente queria material fresco, e eles, pressionados, lá acabaram por ir a estúdio gravar uma série de canções, que não sendo más, não são propriamente boas, e o disco dá a sensação de ter sido feito à pressa e em cima do joelho. Além disto, os músicos não estavam grandes amigos, o vocalista Julian Casablancas gravou as suas partes separado dos restantes companheiros, e o ambiente em torno da concepção e feitura desse disco não era o ideal. Mas o disco lá saíu, pôs um final à falta de actividade dos Fab Five, e deixou muita gente contente, por ver que eles afinal não tinham acabado.
Passados dois anos, é lançado este Comedown Machine, que nasceu num ambiente totalmente diferente. Os relatos que chegam dão conta de uma boa convivência entre os músicos durante as sessões de gravação, já ninguém quer bater no Albert Hammond Jr. por causa do seu mau vinho, e a atmosfera que se viveu ao fazer este álbum fez lembrar os primeiros tempos (a maior parte destes relatos chegou pela voz do baixista Nikolai Fraiture, o mais optimista e ingénuo do grupo. Não quero com isto tirar veracidade, apenas alertar que o Nikolai é um acreditador.. e isso é bom).
Ora, só por isto, por se viver um ambiente melhor, o disco saiu inevitavelmente melhor que o anterior. Este já não dá a sensação de ser forçado, e já soa aos Strokes que conhecemos do antigamente, do triângulo mágico Is This It, Room on Fire e First Impressions of Earth.
Comedown Machine é o disco mais eclético dos Strokes, reúne em 11 canções um pouco de vários elementos – a característica sonoridade rock que se define por “som de Strokes”, falsetes (é o disco em que o Casablancas mais vezes canta em falsete), alguns toques do disco de Julian Casablancas a solo, também nessa onda, modernidade por via de sintetizadores. Há grandes momentos de rock desenfreado de bateria furiosa, há alguns temas mais calmos quase baladas, há guitarras saltitonas quase funk..
Como qualquer disco dos Strokes, este é um álbum que quantas mais vezes se ouvir, mais se gosta (a sério, isso acabou de me acontecer agora, enquanto escrevo estas linhas).
É um disco coeso, forte, as canções encaixam bem umas nas outras ao longo do disco, e quando o álbum chega ao fim, pede para ser ouvido outra vez. É um grande regresso dos Strokes, que estão novamente em grande forma. Já não são os catraios que gravaram Is This It há 12 anos, e o que perderam em irreverência, ganharam em sabedoria.
Quando chegaram, em 2001, partiram a loiça toda e indicaram o caminho, para uma década que estava a começar e que precisava de um rumo. Agora, à entrada de outra década, o papel dos Strokes é da mesma importância. Embora já não sejam eles que definem o rumo que a década vai seguir (muito por causa da geração Youtube, o que é pena), os Strokes continuam a apresentar o caminho que deve ser seguido.