Nada faria esperar que aqui estivesse sentado a escrever sobre Monkey Minds in the Devil’s Time, a verdade é que Steve Manson me deixou literalmente de boca aberta.
Para quem não conhece, Manson era o vocalista de The Beta Band. Até aqui tudo normal. Depois do final da banda deixou de se ouvir falar dele e parece que sofreu de depressão crónica. Nunca a frase ‘há males que vem por bem’ fez tanto sentido.
Rejuvenescido, de ideias bem fixas, Manson atira-se para o mar alto e nada como se estivesse numa piscina com um metro de profundidade. Inspirado em fortes opiniões políticas, numa infância difícil, pintando quadros ao som dos Beatles ou Stones, passando pelos frenéticos Joy Division, Manson deixa-nos perplexos perante tanta música boa.
O tema inicial “Lie Awake” é por si só um indicador do que nos espera, onde com toda a simplicidade e delicadeza Manson confessa “At 15 years old, I had to know/ What makes you fail, and what makes you grow”. Não estás sozinho Steve.
Deixar o álbum tocar e encontrar “A Lot Of Love”, “Lonely” ou “Oh My Lord”, é o meu passatempo preferido dos últimos meses. A cada minuto Monkey Minds in the Devil’s Time abraça-me com o que na gíria se chama de perfeição. Tudo muito cuidado, num plano que claramente Manson demorou o seu tempo a preparar.
Uma nota especial para a homenagem a Senna em “The Last Of Heroes”, a fazer notar que Manson não andou mesmo a dormir.
Mas onde ele me deixa mesmo rendido, é no exacto momento em que decide partilhar a sua revolta pelo sucedido nas manifestações de 2011 em Londres, entrando pelo hip-hop, funk, com letras incendiárias sempre num tom muito maternal. “More Money, More Fire”, “Fire!” e o que na minha opinião é o melhor tema do álbum, “Fight Them Back” – onde em tons de revolta, Manson educadamente nos leva a uma guerra muito pessoal “I feel sad to say the words here that must fall / Upon my lips, you see I f*cking hate you all”. Enorme.
E para não deixar qualquer tipo de duvidas, o álbum termina com “Close To Me”, onde na intimidade Manson se dirige a um qualquer Deus para nos contar “ I used to sit alone and watch your cities rise / It flashed across my mind the murder in your eye”.
Ámen x 10.