James Blake é um óvni. Faz música que ninguém faz, tem uma voz que mais ninguém tem e ainda não tem 25 anos, a idade que já toda a gente fez. Overgrown é o segundo álbum e vai ser difícil não ser o melhor disco que 2013 pariu.
Pode um disco de música electrónica ser orgânico e despido? Frontal? Fazer-nos festinhas no íntimo? Overgrown faz isso tudo. São 40 minutos que em semanas se transformaram neste que vos escreve em dezenas de horas de contemplação e estupefação perante uma obra de um músico que pode perfeitamente marcar um tempo e uma geração.
Disco de produtor, são raras as intromissões alheias – mas quando lá estão, acrescentam de facto algo ao mundo muito próprio de Blake. Brian Eno produz “Digital Lion”, clássico à primeira escuta, e RZA traz hip-hop a “Take a Fall For Me”, a canção mais negra e psicótica do disco.
Há mais dança e electrónicas mais aceleradas (“Voyeur”), mas o piano e voz de Blake continuam a ser a força emocional e musical destas canções. Há muito amor e desamor, muita escrita sobre a vida, o crescer, o ser adulto, o evoluir. Há memórias de uns Portishead, mais no sentir que no musical, mas tudo o resto é fruto de um só homem.
Overgrown é inacreditável. Vanguardista, único, perfeitamente identificável e um objecto que, ame-se ou goste-se menos (caraças, é possível odiar isto?), já não se faz. E a vida, como a música, só tem piada quando nos deparamos com o que não sabíamos ser possível existir.