Está de volta o bom velho Devendra.
Saiu esta segunda-feira o oitavo disco do nosso hippie-gitano preferido, e trouxe de volta o Devendra que eu conhecia, e que julgava ter perdido em 2009, com What Will We Be. Esse disco, embora não seja mau de todo, foi talvez pior da sua carreira. Primeiro porque por alturas deste disco, ele cortou o cabelo e a barba, e perdeu o ar de junkie quase decadente. Depois, o disco foi lançado por uma grande editora – ao contrário dos discos anteriores. E ao ser lançado numa major, obrigou-o a ser mais polido, ter um som mais arrumado e apresentável – para poder ser vendido para grandes festivais do circuito comercial de Verão. E com isso, o Devendra perdeu um pouco da sua essência.
Agora, quatro anos passados sobre esse desvio de percurso, o velho Devendra reaparece, com um álbum ao seu jeito.
Este Mala foi gravado em equipamento emprestado, e num gravador comprado numa loja de penhores. Um gravador Tascam, que era usado pelos primeiros rappers. O Devendra diz que, apesar da sua música nada ter de rap ou hip hop, queria testar o uso dessa tecnologia, na sua música.
E o resultado é um disco que o coloca entre o passado e o futuro. O passado que dele conhecemos, com as guitarras acústicas, a produção lo-fi ou as músicas cantadas em espanhol. E o futuro, com a entrada de elementos mais electrónicos e digitais. E apesar destes elementos novos, ele consegue exactamente ser o velho Devendra que conheci há vários anos.
Neste Mala (que é sérvio para “queridinha”) temos um pouco de tudo. Temas instrumentais, outros cantados em espanhol, em alemão, com coros, só voz e guitarra, com captação de som manhosa, com produção mais sofisticada, com o acender de um isqueiro a marcar a batida. Grande parte das canções são calmas, lânguidas, muitas delas cantadas em voz baixinha, para puxar a nossa atenção total para o som que está a sair do gira-discos e não nos distrairmos com nada que se passe à volta. Neste disco, ele vai buscar a sonoridade de discos antigos, mas sem estar estagnado. E esse toque de modernidade e progresso é dado pelos toques digitais, de teclados analógicos dos anos 80 (e nisto faz até lembrar o último disco do B Fachada, Criôlo).
Estou contente com este regresso. Ainda bem que passaram 4 anos desde o último disco. Com os anteriores, a distância era mais curta, e temi que se o mesmo sucedesse com este disco, tivesse perdido para sempre o Devendra para a Warner Bros. Mas ele foi esperto, usou o tempo a seu favor, não apressou as coisas e reapareceu quando muita gente já se tinha esquecido dele.
Só falta deixar crescer a barba e o cabelo.