Eu bem que gostava de o ser, mas não sou diferente dos outros. Também ando lá, arrebanhado com os outros. E eu, tal como os outros, comecei a ouvir os The National por causa do “Boxer (2007); depois, curioso, lá ouvi o Alligator (2005) que aquelas aves raras não tão alinhadas com os outros me recomendaram. Gostei de ambos. Mas foi um gosto adquirido porque a voz do vocalista canta, que descobri chamar-se Matt Berninger, é colada à do tipo dos Tindersticks, ‘cujo-nome-não-será-mencionado-aqui’. Decidi fazer marcha-atrás e recuar até ao “The National” (2001), o álbum em nome próprio desta banda que é de Cincinatti e de Brooklyn ao mesmo tempo. Deste, não gostei. É aborrecido, chato, e até desafinado. Há ali charme na persona sofrida e sofrível de Berninger mas não chega. Fiz forward até “Sad Songs for Dirty Lovers” (2003) e vasculhei as letras e os sons: estava lá tudo o que fez dos The National os The National que conhecemos.
Matt Berninger é uma espécie de trovador urbano sem instrumento a não ser aquela voz de barítono que lhe dá um charme misterioso. Escreve cruamente sobre relações falhadas, sexo, romance e amor, sempre com uma bala de raiva posta na câmara que acaba por não disparar. Quando esperamos que prima o gatilho, ele põe a arma no coldre. Passa de uma posição submissa, ofendida, despeitada e ressentida para, instantes depois, reclamar direitos sobre algo e alguém. “Don’t act like a kid”, gritam-lhe pela vez dele na “Slipping Husband”; “Did you clean yourself for me last night”, pergunta ele na “Available” (uma das melhores); “You want me, nothing you can do”, declara ele na “Lucky You”.
Obviamente, não é a melhor cara dos “The National”. Porque enquanto umas bandas são espremidas até à última gota nos primeiros álbuns, estes norte-americanos foram ganhando sumo a conta-gotas. Um dia, Berninger disse que talvez a banda fosse melhor porque arrancou já estavam eles nos trinta. É um ponto de vista. Eu prefiro acreditar que eles são apenas bons.