Ao despirem as canções – acústicas e com uma secção de cordas – os Cage The Elephant expõem o lado mais cru da sua música. O que fica? Excelentes melodias, um grande vocalista e um disco altamente bem conseguido.
No título do disco, não deixam muito à imaginação. O que os Cage The Elephant fizeram foi descascar as suas músicas. Mas não quer isto dizer que se limitaram a tirar camadas – retiraram a electricidade mas acrescentaram beleza clássica, com um quarteto de cordas. Podia ser um passo arriscado para uma banda rock, expor desta forma o esqueleto das suas canções. Mas neste caso, correu melhor que bem.
Os Cage The Elephant já tinham mostrado, com electricidade, que as suas músicas são de uma enorme riqueza melódica. Ao desligar os amplificadores, colocam em evidência a qualidade das músicas e do vocalista. Sem embrulho de distorção, sobressai a voz e Matt Shultz, esganiçada qb, com os agudos sempre no máximo, mas cada cada vez menos adolescente e mais segura.
Com quatro discos de originais e quase 10 anos de carreira, os Cage The Elephant fazem agora um disco acústico, gravado ao vivo em vários concertos nos Estados Unidos, no início deste ano. Mas não se pense que estão a ficar velhos ou brandos – veja-se a explosão rock que foi o concerto recente no NOS Alive. A energia continua lá toda, mas eles perceberam que têm uma mão cheia de canções excelentes, singles de rádio perfeitos, que podiam ser testados noutras formas de vida.
E, ao ouvir este Unpeeled, saltam logo ao ouvido as cordas, os arranjos orquestrais – inéditos nestas canções mas que, por outro lado, parece que sempre lá viveram. Ou as canções estavam mesmo a pedir este tratamento, ou o trabalho de orquestração de foi exímio – ou ambas. Juntando excelentes arranjos a canções incríveis, o resultado só podia ser fascinante.
Em algumas canções, os violinos substituem as linhas principais da guitarra eléctrica (como em “Aberdeen” ou “Too Late To Say Goodbye”), noutros temas as cordas criam uma nova base, por vezes bastante subtil mas que acrescenta profundidade às canções. De uma forma geral, as músicas mais enérgicas ficaram mais doces – mas nunca mais adormecidas – e a beleza das baladas foi multiplicada por cem. “Telescope”, “Trouble”, “Rubber Ball” ou “Cigarette Daydreams” estão de levar às lágrimas. Bem como “Right Before My Eyes”, que era rock de liceu e virou canção de embalar.
Depois há as versões. Os Cage The Elephant decidiram fazer 3 covers e foram eclécticos na escolha – um clássico barroco, uma electrónica e um rock lo-fi – mas o denominador comum mantém-se o mesmo que nas canções originais: melodias de primeira linha.
Tarefa arriscada pegar em “Golden Brown”, dos Stranglers – uma das mais belas músicas de sempre – mas superaram o desafio com brilho, conseguiram uma versão que ao mesmo tempo respeita o original enquanto se enquadra perfeitamente no espírito deste disco.
“Instant Crush” dos Daft Punk, com voz de Julian Casablancas, surge aqui totalmente transfigurada – toda tocada em instrumentos de madeira, quando na original até a voz está sintetizada – e soa lindamente, claro, não só porque os Daft Punk têm Mestrado em Melodia Pop, mas porque os Cage The Elephant também estão a tirar esse curso (e a secção de cordas só fica bem no currículo).
No caso de “Whole Wide World”, gravada em 1977 por Wreckless Eric, a versão de Unpeeled basicamente mantém quase toda a estrutura, limpa-lhe só o lo-fi e os violinos tratam de amplificar as harmonias.
Neste disco, não avaliamos as canções em si mas a sua nova vida, acústica e orquestral. E neste caso, resta apenas dizer Parabéns Cage The Elephant. Mesmo que o próximo disco de originais volte ao rock desenfreado, foi bom saber do que são capazes. Se, por outro lado, quiserem levar alguns destes ensinamentos para o estúdio na hora de gravar novo trabalho, tem tudo para ser salto evolucional impressionante.
Ah, antes de sair, queria sublinhar que este disco tem 21 canções, praticamente 80 minutos de música, ou seja, esmifrar até ao tutano as possibilidades do CD – e é bom saber que ainda há quem ligue ao compact disc.