Outubro de 1969. Dez meses após o disco de estreia e incrivelmente pouco mais de um ano desde a sua formação, os Led Zeppelin tomavam o mundo de assalto com aquele que é por muitos considerado o melhor disco de hard-rock de sempre.
Depois de uma estreia – nascendo das cinzas dos Yardbirds – que apanhou toda a gente de surpresa pela pujança, criatividade e energia que ostentava, os Led Zeppelin não pararam um segundo. Desde o início mais respeitados nos EUA que no Reino Unido, a banda de Jimmy Page passou praticamente todo o ano de 1969 no palco, sobretudo do lado de lá do Atlântico. Essa digressão foi fazendo crescer exponencialmente a fama dos rapazes como o espectáculo mais explosivo de então, tudo acompanhado por relatos de excessos, alcoólicos, sexuais e da obrigatória destruição de hotéis um pouco por todo lado. Isto significou duas coisas: ao contrário da estreia, este segundo disco era aguardado com enorme expectativa; e, desta feita, não houve uma sessão intensa de gravações num só local, mas sim um caótico e frenético work in progress na estrada.
Na verdade, as músicas que viriam a compor Led Zeppelin II foram sendo escritas e gravadas um pouco por todo o lado: em aviões, autocarros, quartos de hotel, nos soundcheck de mais um concerto, de mais uma dose épica de várias horas de rock n roll escaldante em palco. Page, o eterno reciclador, não estava sequer perto de ter esgotado as suas ideias acumuladas ao longo de anos, e foi juntando pedaços, riffs, ideias, numa manta de retalhos que foi sendo gravada consoante a disponibilidade de tempo. Estúdios foram 11: dois em Londres, quatro em Nova Iorque e cinco em Los Angeles. Tão caótico parece este “método” que a coisa não deveria ter funcionado. Mas funcionou, e como!
Ainda antes de II chegar às lojas, as encomendas já excediam os 400 mil discos. Quando o álbum conheceu a luz do dia, o mundo do rock ficou boquiaberto. Inicialmente, a culpa foi de “Whole Lotta Love”, a incrível pedrada rock que chegou rapidamente a todos os cantos do planeta, e ecoa até hoje. O disco de estreia era fantástico e tinha, também ele, vários temas antológicos, mas esta era a primeira e incontestável pérola de uma banda que estava destinada a fazer história e a ficar nela. Esse estrondoso single ficaria como a grande marca do disco, mas os Zepp nunca foram uma banda de singles. Aqui, mais uma vez, todos os temas são extraordinários, da narcótica “The Lemon Song” à relaxada “What Is and What Should Never Be”, passando pela magnífica balada Thank You” e necessariamente pela histórica “Moby Dick”, com John Bonham a mostrar por que razão foi o melhor baterista rock de sempre. Bem, todas as músicas, realmente. Mais do que isso, Led Zeppelin II tem uma coesão à prova de bala, o que é notável para um trabalho tão retalhado em termos de gravação.
Se, no primeiro disco, Page estava na prática a conhecer os seus comparsas (só John Paul Jones era um companheiro mais antigo, quando ambos eram músicos de sessão), o sucessor mostrava uma banda mais confiante, mais feroz, mais assertiva, e confirmava tudo aquilo que o guitarrista e mentor esperava: Plant, Jones e Bonham eram gigantes de pleno direito, e o seu talento iria florescer ainda mais e fazer deles parte de algo maior do que os seus enormes talentos individuais.
É, de todos os discos dos Led Zeppelin, o mais completo, aquele no qual todos os membros têm os seus momentos brilhantes e espaço para o mostrar, dentro do som coerente da banda. É também a primeira vez que uma band de hard-rock mostra o que era possível fazer no estúdio. A produção é suja mas fabulosa, com ecos, reverb, feedback, tudo e mais alguma coisa. Uma viagem de montanha-russa de rock e blues. O sucesso foi imediato e a imortalidade ficou garantida e apenas mais reforçada com os discos seguintes.
Ramble On!!