Quando carreguei no play a primeira vez para escutar X’ed Out, não sabia bem o que vinha aí. Estava à espera de experimentalismo, de progressivo, de algum punk, de tudo. Mas também, não estava à espera de nada. A primeira vez que ouvi este quarto álbum do trio Californiano não me entrou muito bem, faltava qualquer coisa. Esperei, dei um tempo para o álbum crescer em mim. Incrivelmente, X’ed Out veio a tornar-se no meu álbum favorito de Tera Melos e, na minha opinião, é muito provavelmente um dos melhores álbuns que 2013 já teve o luxo de receber.
Tera Melos foi sempre uma daquelas bandas que quebrou constantemente as barreiras entre o impossível e a música e, quando os escutamos apercebemo-nos disso mesmo. Não há limites na música, tudo é possível e está sempre ao nosso alcance.
Depois de um interessante mas algo confuso Patagonian Rats, chega X’ed Out, um álbum muito mais sólido, mais linear, mas menos experimental e muito menos inovador que os anteriores. É mais acessível, menos ruidoso, que flui a um ritmo mais natural e mais fácil de gostar e de absorver. Com certeza que vai atrair novos fãs mas, infelizmente, vai desiludir muitos outros.
Podemos sentir Sonic Youth, Dinosaur Jr. ou um pouco de Strokes nesta nova sonoridade da banda. Ao todo são 12 faixas que nos levam para uma nova dimensão, para uma nova e melhorada concepção de Tera Melos. Tornaram-se mais inteligentes, cresceram, deram maior preocupação à melodia e uma nova importância ao resultado do seu álbum. No fundo, os trabalhos anteriores da banda foram a base para construir um todo. E este todo chama-se X’ed Out.
Um dos novos pontos a favor deste disco é, sem dúvida, a rigidez da voz de Nick Reinhart na sua construção. Apesar de continuar com as suas famosas explosões e gritos desenfreados, parece que já está de certa forma mais controlado, o que acaba por não sair do registo do grupo, sendo “Tropic Lame” um perfeito exemplo disso mesmo. A suavidade com que Nick constrói a música é algo transcendental e intrigante.
E o álbum cresce ainda mais com as fabulosas canções “Weird Circles” e “Sunburn”, duas canções com uma melodia mais pop, mas igualmente frenéticas e precisas. “Melody Nine” e “Slimed” apresentam-se como duas canções mais inteligentes e trabalhadas que nos levam para um ambiente mais psicadélico muito comum na sonoridade dos Tera Melos. “Surf Nazis” lembra-nos o college rock dos Pixies, o que iria seguramente agradar Kurt Cobain. A última música foi certamente escolhida a dedo: “X’ed Out and Tired” desenha uma suavidade brilhante através da beleza com que o som das teclas chega até nós e constitui a forma perfeita de finalizar o álbum e todo o nosso sonho.
Agora sim, os Tera Melos encontraram o seu próprio terreno, a sua zona de conforto, aquela onde se conhecem e onde se sentem bem. Um retorno à antiga essência do Math-Rock que nos deixa com uma certa curiosidade para ver o que ai vem a seguir e a esperança de uma datazinha aqui pelos nossos lados. “You can be my wave” canta Nick Reinhart na bela canção Slimed. E é isso mesmo que devemos fazer depois de ler este artigo. Mergulhar na onda Tera Melos e deixá-la crescer dentro de nós.
