A primeira vez que ouvi este disco pensei “É a Sade. Adaptada ao século XXI, mas é ela”. Pensei isto aos primeiros 20 segundos da primeira música, e assim permaneci durante quase todo o álbum. Só mais tarde é que fui informado que não é ela, é ele, é um homem que canta, e fiquei pasmado. Afinal, os Rhye são um duo, composto por um canadiano e um dinamarquês, Mike Milosh e Robin Hannibal – mui talentosos produtores, multi-instrumentistas, cantores, escritores de canções.
E o disco de estreia, Woman, já é um dos meus discos preferidos dos últimos 2 a 5 anos.
Hoje em dia, é necessário categorizar a música, e inseri-la na prateleira de um, ou vários estilos musicais. Mas a música dos Rhye descreve-se apenas com um adjectivo – Sensual!
A sensualidade começa logo na capa do disco, e prossegue ao longo de cada canção. É música sedutora (Sade, onde estás?), carregada de líbido, elegante, mas sem confundir sensual com sexual.
Os Rhye fazem música sofisticada, que vai buscar elementos de R&B, soul, às vezes quase disco, quase dance, quase smooth jazz… Umas dão vontade de acasalar, outras fazem abanar as ancas e os ombros numa dança contida, outras pedem-nos apenas para fechar os olhos e morder os lábios. Numas músicas, o estilo está mais bem definido, noutras, está tudo misturado, mas todas elas marcadas por um Groove e um balanço incríveis, por causa do baixo. Muitas vezes a batida e o ritmo das canções vêm do baixo, não da bateria. É no baixo que tudo começa, de forma lânguida, meticulosa, a pautar o andamento da canção. O resto vem depois, e é arrumado de forma bastante harmoniosa.
Sendo os Rhye uma dupla de produtores, o cuidado estético é redobrado e, mesmo com uma espécie de cacofonia (sopros, cordas, piano, harpa, em cima uns dos outros) não há ruído nem confusão, tudo está no sítio certo, no volume certo, na dose certa. E tudo é feito com uma subtileza tal, que apaixona à primeira audição. Nem é preciso muito, as duas primeiras músicas, Open e The Fall, entranham-se logo bastante facilmente e, que nem uma droga intravenosa, quando damos conta, já estamos viciados.
Coincidência ou não, este disco luminoso é lançado na Primavera, quando o espírito humano está mais predisposto a apaixonar-se.
Não sei se o futuro dos Rhye será tão brilhante como a estreia. Woman é um grande disco, hoje e daqui a 20 anos. Ou há 15 anos atrás. É sublime e foi feito para ouvir com bons headphones, volume moderadamente alto, olhos fechados, e várias vezes seguidas. Mas não faço futurologia, e pode acontecer que eles se percam pelo caminho.
Mas este Woman já ninguém me tira. Só falta mesmo vê-los ao vivo, não num festival, mas na minha sala de estar.