Muitos dizem que a música nova já não é excitante. O problema, creio eu, é que muitos não sabem procurar boa música. Mas, de vez em quando, podemos esbarrar com uma música ótima, assim, de repente, (quase) sem repararmos. Os Peace aparecem neste cenário desolador como “mais uma banda” que faz “o mesmo que as outras bandas”, alguém diz. Queixam-se de estar muito batido, de ser música de plástico, mas eles são tudo menos isso.
Tudo o que poderíamos inferir do nome desta banda serve para nos enganar. Os Peace apareceram no meio desta explosão súbita da música de Birmingham, e destacaram-se de um modo bastante positivo com a edição do aclamado EP Delicious (reconhecível pela capa onde vemos representado o símbolo universal da paz… numa melancia), que compreendia temas como a melancólica “California Daze”, e a elétrica e bastante dançável “Bloodshake”.
No álbum de estreia, as melodias mexidas e muitas vezes dançantes, valeram-lhes comparações com outras bandas inglesas de renome, tal como os também jovens Maccabees, nos tempos idos de Wall Of Arms.
Os Peace prometeram muitas coisas para In Love, e creio que não desiludiram o seu público. Aqui encontramos a fórmula mágica da qual Harrison Koisser e colegas se socorreram para o citado EP, usada e abusada no disco de estreia até ao ponto de quase exaustão. Mas que isto não vos pareça mau, porque de todo será. Temos, por exemplo, temas como “Lovesick” ou “Wraith” (recuperada do EP), que se nos apresentam ao ouvido como o equivalente musical de uma pastilha açucarada, e são dos temas que nos transportam para uma juventude vivida sob as influências de uns longínquos Echo & the Bunnymen.
Não quero que pareça que escrevo aqui que a banda não mudou, entretanto, o som, e que tudo permanece igual. Na realidade, em In Love, parecendo que não, os Peace conseguem aproximar-se de um som mais negro, sem perder aquele brilho de bola de sabão tão característico, que faz deles uma promessa para um futuro mais brilhante do estilo dream/glam-rock.
A música deles não é polida ao ponto de ganhar um brilho de diamante. É arenosa como a voz de Harrison, que por vezes ecoa pelos ouvidos como um gemido gutural. Por exemplo, na já referida “Wraith”, a voz do homem forte dos Peace contorce-se até parecer que implora, ou quase. Em “Delicious”, Harrison ronrona ao ouvinte sobre um instrumental que nos transporta para um lugar mítico indefinido.
In Love não é perfeito. Notamos a mais que óbvia similaridade entre “Float Forever” e “California Daze”, que parecem uma a alternativa à outra (ou vice-versa), tanto a nível melódico, como em relação à tristeza que Harrison parece transmitir. Porém, não deixam de ser temas entusiasmantes, sonhadores, e uma promessa de que nem tudo está perdido na música plástica destes dias.
Não sei se a música dos nossos tempos está realmente a perder qualidade, se tudo era mesmo melhor há 40 ou 50 anos atrás. Se as profecias forem verdadeiras, se já não houver esperança, espero que venham mais bandas como os Peace para desmentir estes rumores.