Eleanor Friedberger – New View (2016)

O novo disco de Eleanor Friedberger, New View, é um saco de sentimentos contraditórios. O terceiro disco a solo afasta-se mais um pouco do estilo pop dos Fiery Furnaces para uma pop-folk confessional, pautada de guitarras tranquilas e de uma voz quase sussurrada, com uma batida constante e letras pessoais.

Nota-se, claramente, uma evolução face ao seu trabalho anterior. Mas, se em Personal Record, de 2013, Eleanor mostrava uma evolução face ao seu primeiro disco a solo, ainda que tímida, ainda que à procura do seu espaço, num tom enternecedor e com franca qualidade, com momentos surpreendentes e imprevisíveis, em New View falta qualquer coisa para o álbum ser realmente bom.

Feitas as contas, o estigma do terceiro disco parece ter chegado à carreira a solo de Friedberger. Um trabalho bastante razoável, com algumas canções que merecem destaque. “Open Season” tem uma parte de guitarra interessante, um solo quase rock, que escapa à lógica mais folk do resto do trabalho e é interessante a transição quase imediata para “Sweet Girl”, provavelmente o tema mais animado do disco.

A fechar, “A Long Walk” é o resumo perfeito do sentimento que o disco transmite. A guitarra soa a rock dos anos 70 que já ouvimos muitas vezes, o que não cola necessariamente com a voz de Friedberger, perfeita para a folk. Há um rasgo de inspiração na canção, com alguns momentos muito interessantes ao longo de seis minutos, mas falta qualquer coisa para ser uma canção muito boa.

Mesmo com algumas faixas interessantes e Friedberger a experimentar mais do que no disco anterior o resultado final é um trabalho morno. Não temos qualquer razão para carregar no ‘repeat’ em nenhuma faixa. Todas as músicas têm qualidade, algumas até são bastante boas, são bem compostas e com uma produção simples mas nenhuma se destaca no conjunto do álbum.

É muito fácil passar a barreira entre o consistente e o aborrecido e Eleanor pisa esse risco. New View é óptimo para ter a tocar ao fundo enquanto se fazem outras coisas mas, no “fim do dia”, este último disco funciona melhor ouvindo as canções no ‘shuffle’ do que todo de seguida.