
Num salão grande e escondido, no interior do Pavilhão de Portugal, um grupo de jovens saltitava, comia, jogava no telemóvel, ria – como um bando de crianças amigas, felizes e inocentes. Tinham quase todos cabelo comprido – devia ser uma banda. Eram os King Gizzard & The Lizard Wizard. Deitados em puffs, ansiosos por espalhar magia no público português, dos rapazes australianos conseguimos roubar a atenção de um: Joe Walker, um dos guitarristas. Com ele falámos sobre o disco que passou, o disco que virá e linguagem e música.
Os últimos anos têm sido intensos pra vocês, tiveram pelo menos um disco por ano. O que tens a dizer sobre estes últimos tempos?
Foi um tempo de aprendizagem. Nós trabalhamos bastante rápido e cada um tem interesses musicais diferentes. Em termos de fazer discos, tentámos fazer o máximo que pudemos. Em termos de tournées, demos imensos concertos na Austrália, a tentar ganhar dinheiro para ir aos Estados Unidos. Tivemos sorte em ganhar um prémio musical australiano de 50 000 dólares, que tornou mais fácil a ida a outros sítios. Tendo em conta que somos sete numa banda, fica caro.
Depois dessa aprendizagem, sentiram a necessidade de gravar um disco mais calmo e introspectivo, como o Quarters!?
Talvez. Não tivemos essa intenção. Vivemos em Nova Iorque durante um mês no Verão passado e então tivemos muito tempo para improvisar. Haviam pequenas ideias que nós e o Stu tínhamos e depois da tour americana, em Novembro, tivemos algum tempo parado em que aproveitámos para gravar o disco. Não foi propriamente um momento em que nos lembrámos de o fazer, foi como a maioria dos nossos discos. Alguns são mais conceptuais do que outros, mas aconteceu naturalmente.
Então não há nenhum conceito por detrás dos 10 minutos e 10 segundos exactos de cada canção, a par da divisão em quatro da capa?
Há definitivamente um conceito nisso. Nós tínhamos quatro canções de improviso longas e tinham todas à volta de dez minutos, por isso decidimos que todas teriam o mesmo tempo. Depois o Jason Galea, que tem feito todo o nosso visual, desenhou uma capa que representava isso.
O Stu disse numa entrevista que vocês gostariam de explorar novos instrumentos e culturas. Podemos esperar novas abordagens à vossa música, nos próximos álbuns?
Acho que sim. Estamos a trabalhar num novo que é diferente outra vez. É muito mais convencional em termos de escrita de canções, como quem diz “canções pop de 3 minutos”. Há também uma instrumentação diferente – clarinete, flauta e algumas cordas. Estamos a acabar esse e há outro no qual esperamos começar a trabalhar em breve – que será maior, mais grandioso. Gostamos de nos desviar para vários sítios e depois de os explorarmos, seguimos para outro, ainda que possamos voltar.
Falando sobre linguagem e música, ele também disse que considerava a música e a letra “one and the same”. Também sentes isso? Como é que isso se reflecte nas vossas canções?
Sim! Acho que tem a ver com as coisas que ingeres e interpretas de formas diferentes. Como a linguagem, a música é definitivamente uma coisa subjectiva que podemos levar connosco e adaptar da forma que quisermos. Podem-se afirmar coisas que podem ser ouvidas e percebidas de maneiras diferentes. Acho que a música é assim, como a linguagem. É uma questão interessante.
Qual é a vossa reacção quando vos chamam “uma banda psicadélica”? Há muitas bandas que não gostam desse rótulo.
Não sei, alguns dos elementos da nossa música são psicadélica. Depende da definição. Podia dizer-se que há coisas do Quarters! que são psicadélicas, mas também se podia dizer que são jazz. Uma banda que não cai especificamente num género, que é ecléctica, e tem guitarras eléctricas, é apelidada de “psicadélica”. Ou se a banda é formada por jovens de cabelo comprido. É um termo usado vagamente e demasiadas vezes, até connosco.
Para terminar: quem são King Gizzard e Lizard Wizard?
O King Gizzard seria provavelmente o Stu, mas isso muda. Somos todos um só.
São todos o King Gizzard e são todos o Lizard Wizard?
Toda a gente é o King Gizzard. Tu és o King Gizzard, ela é o King Gizzard. Eu não sou o King Gizzard.
O novo disco dos King Gizzard & The Lizard Wizard – Paper Mâché Dream Balloon – sai hoje, dia 13 de Novembro.
Fotos: Sofia Mascate






