Lee Hazlewood, que já aqui trouxemos na sua faceta de cowboy psicadélico, continua a ser um segredo demasiado bem guardado. Mais conhecido pelos magníficos discos gravados nos anos 60 e 70 com Nancy Sinatra, Hazlewood foi, sobretudo, um grande escritor de canções. Como vocalista, a sua imagem de marca era o vozeirão profundo mas melódico, qualidade que manteve bem até final da sua carreira, e da sua vida.
A canção que trazemos hoje, “T.O.M. (The Old Man)”, é de Cake or Death, disco de 2006. Gravado na Suécia, país onde viveu feliz as últimas décadas da sua vida, é um álbum que cheira a despedida. Temos até a regravação de um dos seus muitos clássicos, “Some velvet morning”, em que Hazlewood homenageia a sua neta, que canta na sua voz de criança a primeira parte da música, um momento extraordinariamente terno. É um disco do homem a fechar o ciclo, que pressente a morte a aproximar-se, mas que se mostra feliz com a vida que teve, está em plena posse das suas grandes qualidades, e consegue sorrir perante a adversidade.
A excepção será, talvez, “T.O.M.”, que, tal como o nome indica, é a mensagem de um velho que olha para frente e se interroga do que aí virá. Que sabe que tudo continuará na Terra, no grande esquema das coisas, que fica triste por deixar para trás, querendo apenas saber se lá, para onde ele vai, haverá canções para cantar. Hazlewood tinha razão, porque este seria o último disco editado na sua vida, que terminaria um ano depois.
Tamanha é a importância da letra que não resisto a reproduzi-la, integralmente, aqui, para acompanhar a música. Senhoras e senhores, deixo-vos a última música editada por um gigante da música popular americana.
Have you seen the sun?
It still hangs in the sky.
Have you seen the birds?
They still know how to fly.
Have you seen the rivers?
They still float to the rim.
Have you seen the old man?
He knows all about them.
And have you seen the lovers?
They still pray for the dark.
Have you seen the kennels?
They still sleep in the park.
Have you seen the mountains?
They still hug the snow.
And have you seen the old man?
He’s ready to go.
And his tongue,
his tounge tastes forever,
and his mind wonders
what forever will bring.
And in this place called forever,
will there be any songs to sing?