Krautpop viciante cantado em castelhano? São as Melenas, um grupo de quatro raparigas que fizeram um dos discos mais frescos do ano.
As Melenas são quatro raparigas espanholas que se conheceram nas noites de copos e de concertos de Pamplona. Amigas de alguns músicos, decidiram deixar de estar apenas no público a aplaudir e começaram uma banda. Nunca tínhamos ouvido falar delas mas acabam de editar o seu terceiro álbum, que promete novos e gloriosos voos para este peculiar grupo.
Peculiar porque são quatro mulheres (ainda não é tão frequente assim); porque fazem um krautpop cheio de melodia cantada em castelhano; e porque conseguem ter um pé no cinzento da Alemanha de Leste do início dos anos 70 e outro no sol da Península Ibérica.
O disco em causa, fresquinho, fresquinho, chama-se Ahora, e este é realmente um momento de afirmação. Ohiana, Lauri, María e Leire assumem que estão, agora, prontas para dar o passo em frente, depois de alguns anos de descoberta de um rumo. Ainda assim, já tocaram nos Estados Unidos, em França e no Primavera Sound, diga-se. Agora, assinadas pela editora de Chicago Trouble in Mind, o céu é o limite.
O que Ahora traz de excitante e de fresco é uma base kraut construída em cima de bateria motorik, baixo impulsionante, guitarra discreta e um supremo protagonismo atribuído aos teclados vintage, a fazer inveja à arrecadação dos Air. Sobre esta base, que já não é pouco, está um extremo bom gosto na composição, um jeito certeiro de fazer canções e encontrar melodias, e as vozes femininas que nos encantam.
Já falámos (mais que uma vez) do kraut mas as referências que nos são sugeridas atiram também para coisas tão recomendáveis como Stereolab ou Dubstar. Música que consegue ser gélida e depois quente, motorizada e maquinal mas também humana, com canções que nos fazem querer aprender a letra para cantar também. Ouça-se a pop apuradíssima de “Bang”, Tú Y Yo” ou de “1986” e desafio o leitor a ficar indiferente.
Final de 2023, e uma bela surpresa de nuestras hermanas de Pamplona.