O encontro com James Brown
Por volta de 1965, os Stones estavam em digressão pelos EUA, algo que faziam sempre que possível e pelo tempo que fosse possível. Em Nova Iorque, aproveitaram o facto de James Brown estar a tocar uma semana inteira no Apollo. Richards estava fascinado com a banda de Brown, uma máquina implacável de groove; já Jagger só tinha olhos para Brown. Este era uma gigantesca estrela e tratava mal os seus músicos, algo que desagradou de imediato ao guitarrista dos Stones. Comentou com Mick, que não lhe deu grande saída. Passou todo o tempo a observar a postura de Brown em palco, a sua dança, a sua interacção com o público. O próprio Richards admite que Jagger tirou muito dessas lições, e começou então a desenvolver ainda mais a sua ‘persona’ de palco.
Keith Richards foi escuteiro…e adorou
Um dos mais famosos ‘bad boys’ do mundo da música, Keith Richards, foi na sua juventude um orgulhoso membro dos escuteiros britânicos. Aos 15 anos, quase coincidindo com a altura em que teve a primeira guitarra, Keith era um jovem rufia em Temple Hill. Tinha sido expulso do coro da escola – que adorava – por a sua voz ter mudado, mais uma rejeição “que ainda hoje me dói” de um rapaz de uma família de classe baixa do pós-guerra, condenado a não ser ninguém na vida. Acabou por encontrar abrigo nos ensinamentos de Baden Powell, o fundador do escutismo. Adorava tudo acerca daquilo: as tarefas, a disciplina lassa mas existente, aprender todos os truques de sobrevivência e, também, poder usar uma faca à cintura. Dedicou-se de corpo e alma a aprender tudo, e poucos meses depois o seu uniforme era inundado de distintivos de mérito. “Tudo isto, e sobretudo a minha rápida promoção, fez-me um bem enorme à auto-estima, no delicado período que se seguiu à expulsão do coro. Ter passado pelos escuteiros foi mais importante do que imaginava”, explica Richards, na sua autobiografia. Acabou expulso pouco tempo depois, por ter dado uns tabefes num puto novo, “um sacana chapado”, que havia sido designado para a sua equipa. Daqui não veio trauma. A guitarra estava a caminho. “Depois disso, o meu mundo era só ela”.
Wild Horses entre a canção de embalar e a despedida amorosa
Wild Horses, um dos temas-chave de Sticky Fingers, começou e formou-se como uma balada de Richards para o seu filho, então com dois meses. O passo que elevou a canção foi a intervenção de Jagger, que mexeu na letra para reflectir a desintegração da sua relação com Marianne Faithfull, dando-lhe uma dimensão mais densa. Jagger, como é típico, veio mais tarde desmentir esta versão, afirmando que essa relação já havia terminado.
Stones e o Boss, Bruce Springsteen
A subida de Bruce Springsteen ao palco para tocar “Tumbling Dice” com os Rolling Stones, no Rock in Rio, foi de facto uma surpresa para quase toda a gente, aproveitando o facto de o Boss estar em Portugal. Mas não foi algo inédito. Em Dezembro de 2012, os Stones deram um concerto em Newark, estado de Nova Iorque, de onde é originário Springsteen. Como não podia deixar de ser, este participou no espectáculo, com Jagger a dizer que “o nosso próximo convidado veio a pé”. Tocaram, então, o mesmo “Tumbling Dice”, num concerto que teve como outros convidados os Black Keys e…Lady Gaga.
Marianne Faithfull e a barra de chocolate Mars
1967, o boom do ácido na vida dos Stones. Na casa de Richards em Redlands, a banda, namoradas, groupies e artistas diversos haviam passado dias seguidos na farra, com muito ácido à mistura. Numa manhã, a polícia bate à porta. Richards, ainda sob o efeito de drogas, convida-os a entrar amigavelmente, para conversar. Segue-se uma rusga que ficou para história, fazendo correr rios de tinta sobre os degenerados Stones. Marianne Faithfull, namorada de Mick, tinha acabado de tomar banho, e uma agente pediu-lhe para retirar a toalha, para ver se tinha algo consigo. A história que chegou à imprensa foi que Faithfull tinha, nesse momento, um chocolate Mars alojado na vagina. Sabe-se hoje aquilo que os intervenientes sempre disseram: que muita coisa estranha se tinha passado em Redlands, mas nada de um chocolate Mars a servir de vibrador. Mas para o público, isso ficou como o símbolo do deboche ‘weird’ da comitiva Rolling Stones.
Lennon e os ladrilhos
Por volta de 1968, aprofundou-se a amizade entre Richards e John Lennon, dois homens que sempre se haviam respeitado. O que os ligava, no entanto, não era tanto a música mas sim as drogas e os excessos. Richards conta que Lennon estava sempre entusiasmado e querendo tomar o que quer que o Stone tomasse, mas com resultados devastadores. “O John tinha muita garganta, mas a verdade é que não aguentava o meu ritmo”, revela Richards, que por várias vezes foi amigavelmente recriminado por Yoko Ono, que se queixava do estado a que o marido chegava a casa. “Não me lembro de alguma vez o John sair da minha casa sem ser na horizontal, ou pelo menos muito bem aparado a alguém”, explica Richards, que conta um episódio: “Vou à casa de banho e dou com ele abraçado ao chão. Vinho tinto a mais e heroína: uma tripe em Technicolor”. “Não me tires daqui, estes ladrilhos são lindos”, foi a resposta de Lennon.
Brown Sugar
A letra do clássico “Brown Sugar” é tão sugestiva que se presta a muitas interpretações, todas elas do lado errado da lei e da moral. A associação mais óbvia é a dependência da heroína, mas há quem fale de escravatura, sexo selvagem e tudo o resto. Para Jagger: “Só Deus sabe de que raio estou a falar nessa canção, é uma mistura tão grande. Todos os temas perigosos de uma só vez”.
Brian Jones ganhava mais cinco libras que o resto da banda
Na primeira digressão dos Stones, Brian Jones era o mais bem pago, sempre cinco libras acima do que ganhavam todos os outros. Tudo porque havia convencido o agente da banda de que era “o líder”, estatuto que tivera inicialmente mas algo que nunca havia sido sequer discutido. As coisas azedaram quando Richards e Jagger souberam, sobretudo porque eram quem assegurava a maior parte do material fresco da banda. Mais tarde, Brian foi o primeiro a cair nas armadilhas da fama, das mulheres e da droga, nomeadamente porque, ao contrário dos outros, se deixou consumir por isso em detrimento da música. A sua importância como inspirador e multi-instrumentista foi caindo, começou a faltar a concertos por doença mas era visto em festas com Bob Dylan ou Brian Wilson. Ainda antes de as coisas ficarem realmente pesadas, Jagger e Richards iam-se vingando de Brian com pequenas brincadeiras cruéis: dada a sua baixa estatura, Jones usava uma almofada no seu potente automóvel para ver a estrada, almofada que a dupla Jagger/Richards fazia questão de roubar sempre que possível.
Stones e Portugal
A “maior banda de rock do mundo” tocou em Portugal por cinco ocasiões, já contando com esta exibição no Rock in Rio. A estreia foi a 10 de Junho de 1990, no Estádio de Alvalade, então o maior recinto de espectáculos musicais do país. Cinco anos depois, em Julho, novo regresso a Alvalade. Seguiu-se o Estádio Municipal de Coimbra, em Setembro de 2003, outro Estádio – o do Dragão – em 2006, e de novo Alvalade em Junho de 2007. Sete anos depois, na Quinta da Bela Vista, os Stones voltaram a conquistar, e a deixar-se conquistar, pelos portugueses.
O desejo de Jimi Hendrix
No final dos anos 60, o mundo estava, como tantas vezes, bipolarizado entre Inglaterra (Stones, Beatles, Clapton e seus projectos) e os EUA (The Doors, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Dylan). Mais do que rivalidade, vivia-se um clima de admiração e até colaboração entre algumas das bandas. Ao contrário de Clapton – cujo mundo de ‘guitar god’ ruiu quando Hendrix tomou Londres de assalto – Keith Richards sempre se deu bem com o americano. Numa das últimas passagens pela capital britânica (onde viria a morrer em 1970), Jimi teve longa conversa com Richards. Aí, Hendrix revelou-lhe a inveja que tinha da irmandade dos Stones, da sua união em palco e fora dele. E deixou um desejo, que estava a planear: queria fazer uma verdadeira banda, e deixar de ser apenas o virtuoso centro de atracção que incendiava guitarras à sua passagem. Jimi, aliás, viu muitos concertos em Londres, quase que em busca de gente que pudesse juntar no conjunto que planeava na sua cabeça. Só podemos imaginar o que daí viria, porque o maior guitarrista de todos os tempos faleceu pouco depois.
Angie
Uma das mais famosas baladas dos Rolling Stones, leva à associação imediata a Angie Bowie, mulher de David Bowie que não ficava atrás do marido no que toca à promiscuidade sexual. Richards nega, dizendo que o tema é sobre a sua cura de desintoxicação na Suíça.
Richards rouba a namorada a Jones, com esta a acabar nos braços de Jagger
Em 1967, na sequência da rusga e do escândalo de Redlands, Richards decide deixar a Inglaterra para fugir à pressão, à espera que o julgamento começasse. Ele, Brian Jones e a namorada deste, a belíssima e magnética Anita Pallenberg, meteram-se no Bentley de Richards com um motorista, com o objectivo de descer toda a Europa e ficar em Tânger, Marrocos. A meio da viagem, em França, Jones começa a queixar-se de se sentir doente mas, por ter tendência para ser hipocondríaco, ninguém lhe ligou. Nessa altura, já Richards e Pallenberg estavam enfeitiçados um pelo outro, sem que algo tivesse acontecido. Jones insistia que se sentia mal e, ao ver uma ambulância, pediu para que a seguissem para o hospital mais próximo. Foi-lhe diagnosticada uma pneumonia. Teve de ficar internado alguns dias, pelo que o resto da comitiva seguiu caminho, com a combinação de que Jones voaria para Marrocos assim que estivesse restabelecido. Foi o que faltava para que Richards e Pallenberg se envolvessem, ali mesmo, no Bentley, enquanto o motorista conduzia, entre Barcelona e Valência. Na semana seguinte, já em Marrocos,o novo casal praticamente não saiu do quarto, aproveitando o tempo enquanto Jones não chegava.Não havia exactamente um plano para o que fazer quando tal acontecesse, mas Richards continuava a dizer que ela era a miúda do Brian. Quando este chegou, terá pressentido que algo se passava, pelo seu comportamento cada vez mais paranóico. O trio continuava a sair junto, como se nada tivesse acontecido. No entanto, Jones voltou aos velhos hábitos, procurando frequentemente agredir Pallenberg. Esta habitualmente dava-lhe troco e até costumava ganhar. Na última discussão, partiu duas costelas ao companheiro, numa luta que fez Richards tomar uma decisão:aquilo não era vida para ninguém. Combinou então fugir com Pallenberg, fazendo Jones ir numa pequena viagem com uma desculpa esfarrapada. Quando este voltou ao hotel, já o Bentley ia a caminho de Tânger. Foi o fim da relação Jones/Pallenberg, mas havia um outro pormenor importante para resolver: os Rolling Stones. “Foi um período complicado, em que eu de certo modo tinha de negociar com Brian. E ele serviu-se da história para se afundar ainda mais. Dizem que lhe roubei a miúda. No meu modo de ver as coisas, salvei-a, foi o que foi. E, de certo modo, salvei-o também a ele; salvei-os aos dois. Era uma estrada muito destrutiva a que eles estavam a seguir”, explica Richards. Estranhamente, Jones e Richards conseguiram manter-se profissionais para a digressão do Verão seguinte. Seguiram-se tempos bons para o novo casal, até que Jagger entrou em cena. Era o protagonista do filme “Performance”, um projecto avant-garde com muito sexo à mistura. Outra das estrelas era Pallenberg. Algum tempo depois envolveram-se, embora nada de muito sério daí resultasse, até porque Jagger continuava com Marianne Faithful. Richards só soube muito mais tarde, e descreve esses momentos em “Life”. “Da Anita, nunca esperei nada. Caramba, eu próprio a roubei ao Brian. Tudo bem, tinhas de comer o Mick. Do que é que eu estava à espera? De que outros tipos não se fizessem à Anita Pallenberg? (…) Não sou um tipo ciumento. Eu sabia de onde é que a Anita vinha. Não estava à espera de pôr rédeas nela. Foi provavelmente isso que mais contribuiu para a distância que se criou entre mim e o Mick, muito mais da parte dele do que da minha. E talvez para sempre”. No entanto, que não se veja aqui o santinho Richards. Foi só uma vez, mas também eles se meteu com a garota de Mick, Faithfull, que também não fazia jus ao seu nome. “Quem foi ao mar perdeu o lugar”, diz Richards, descrevendo como Jagger chegou a casa ainda estavam eles na cama, fazendo Richards fugir pela janela, sem ter conseguido encontrar as meias. Da história sobrou uma anedota, que Faithfull conta a Richards sempre que o vê: “ainda não consegui encontrar as tuas meias!”.
O Pirata das Caraíbas
Em 2006, Richards dá por si no cinema, basicamente a fazer de si mesmo, em versão pirata. No terceiro filme da saga “Piratas das Caraíbas”, o guitarrista dos Stones faz de pai de Jack Sparrow, a personagem central interpretada por Johhny Depp, seu amigo e fã de longa data. A conversa começou anos antes, quando Depp perguntou a Richards se podia inspirar-se nos seus movimentos, imagem e forma de andar para fazer a sua personagem. A resposta foi entusiasticamente positiva. Anos mais tarde, Depp convenceu os argumentistas a introduzir num dos filmes a personagem do pai de Jack Sparrow, já a pensar no seu amigo.
O sonho que valeu um hit para a história
A mitologia Stones tem aqui um dos seus tomos mais conhecidos, mas é tão relevante que o vamos repetir. Numa noite no início de 1965, Richards acordou sobressaltado com um riff simples mas espantoso na cabeça. Tinha o hábito de dormir com um gravador ao lado da cama exactamente para estes momentos, e gravou de imediato a entrada explosiva dessa música. Tão cansado estava que voltou a dormir, deixando o gravador seguir até ao fim, registando o seu profundo ressonar. De manhã, ouviu a cassete e, pouco depois, o clássico “Satisfaction” estava feito.
O lunático Godard
O mítico realizador francês Jean-Luc Godard deixou-se enfeitiçar pela loucura da segunda metade dos anos 60, em Londres. Aproximou-se dos Stones e ficou acordado rodar o filme “Sympathy for the devil/One plus one”. O problema é que o realizador – “parecia um bancário francês” – não parecia fazer ideia do que queria, e não terá ajudado o facto de ter entrado em alguns caminhos que os Stones trilhavam habitualmente, as drogas. O filme ficou, nas palavras de Richards, “uma caca pegada”.
Altamont e o fim do sonho dos anos 60
Altamont, o concerto que dá nome a este site, fica para a história como o concerto que marcou a história dos Stones e o fim simbólico do ‘flower power’ e da inocência hippie dos anos 60. O Altamont Speedway Free Festival teve lugar no norte da Califórnia a 6 de Dezembro de 1969 e contou com os Stones e os Grateful Dead como grandes promotores e atracções. Apesar de só os Stones serem hoje em dia associados ao evento, tocaram nele, por ordem, Santana, The Flying Burrito Brothers, Jefferson Airplane, Crosby, Stills, Nash & Young e os Rolling Stones, a fechar a noite. Os Grateful Dead recusaram-se a tocar, devido ao caos e violência que o evento estava a gerar. O festival gratuito, vendido como o Woodstock do Oeste, foi mal organizado, nomeadamente em termos logísticos e de segurança. Esta foi assegurada pelos violentos Hells Angels, que rapidamente se alcoolizaram e extravasaram as suas competências enquanto segurança não-oficial do evento. Perante uma multidão de 300 mil pessoas, a esmagadora maioria delas a tripar com drogas de duvidosa qualidade, o ambiente passou de pacífico a muito pesado, explodindo em violência durante a actuação dos Rolling Stones. Mick Jagger, que fora agredido assim que saiu do helicóptero ao chegar ao local, foi pedindo à multidão para se acalmar, nomeadamente aos que estavam mais à frente, junto da barreira de segurança. Tocavam os Stones “Under my thumb” quando Meredith Hunter, um jovem negro de 18 anos, tentou subir ao palco. Foi repelido pelos Hells Angels mas voltou a tentar invadir o palco, chegando mesmo a empunhar um revólver. Foi então esfaqueado por Alan Passaro, dos Angels, mais tarde absolvido por ter agido, segundo o tribunal, em legítima defesa. Os Stones, que alegadamente não se aperceberam do crime em si, ponderaram abandonar o palco mas, nas palavras de Jagger, temeram que a multidão se descontrolasse ainda mais se o fizessem, numa altura em que os motins eram frequentes e a segurança, nessa circunstância, muito falível. Morreram mais três pessoas durante o festival de Altamont: duas por atropelamento e uma afogada. A violência do evento – sobretudo o contraste com o festival de Woodstock, uns meses antes – deu um final triste à década mais promissora de progresso social, espiritual e libertária do século XX. Meses antes, na Califórnia, Charles Manson e os seus seguidores haviam espalhado o terror com uma série de crimes, nomeadamente o assassinato de Sharon Tate, mulher de Roman Polanski, na altura grávida. A segunda metade de 1969 fechou com sangue e fogo essa década, enterrando simbolicamente o sonho hippie.
Let it bleed
O tema-título do excelente disco de 1969, surgiu de um momento de tensão no estúdio. Jagger e um produtor estavam a discutir havia muito tempo, enquanto Richards continuava a tocar procurando captar o que raio cada um dos outros pedia. Até que chegou ao ponto em que pediu que a luta cessasse: não podia tocar muito mais, porque os seus dedos quase sangravam. A resposta veio pronta e mítica: let it bleed.
As cinzas do pai de Richards
Em 2007, Keith “desde 1965 o homem do rock mais provável de morrer em breve” Richards, volta a ser assunto de tablóides, devido à notícia de que teria snifado as cinzas do seu pai. Seguiram-se desmentidos oficiais, até que o homem decidiu falar do assunto, pela última vez, na sua autobiografia: “Sabido como sou, afirmei que tinham tirado as minhas palavras do contexto. Não desmenti nem confirmei. Eis a declaração que emiti quando a história começou a ganhar contornos preocupantes: “A verdade é que, depois de ter guardado as cinzas do meu pai numa caixa negra durante seis anose não me sentindo capaz de apenas as dispersar ao vento, acabei por plantar um robusto carvalho inglês, para espalhar as cinzas em torno dele. Ao abrir a caixa, levantou-se uma pequena nuvem: uma fracção mínima das cinzas, que pousou em cima da mesa. Não podia apenas enxotá-las. Passei o dedo por elas e aspirei-as.Pó que ao pó retorna, de pai para filho. Hoje, ele ajuda carvalhos a crescer, e sei que me ama ainda mais por causa disso”.
O veterano que quase se afogou ao gravar um vídeo
Charlie Watts, o ominipresente baterista, parece sempre impecável em qualquer situação. Não foi assim em 1974, nas gravações do vídeo para “It’s only rock n’ roll (but i like it)”. A cabana de praia que alberga a banda vai enchendo lentamente de espuma mas Watts, atrás da bateria, quase se afogou.
O mítico encontro de Richards e Jagger
Os rapazes tinham por volta de 18 anos, e eram ambos de Dartford, Mick e uma família de classe média-alta e Richards de uma zona menos afortunada. Em 1961, no comboio, Richards vê um rapaz franzino carregado de discos de vinil, coisas como Chuck Berry e Muddy Waters. Olhando atentamente, reconhece Jagger, que havia conhecido poucos anos antes, quando este vendia gelados na rua, nas férias de Verão. Meteram conversa, acerca de discos – que Jagger encomendava por correio directamente à Chess Records – e a amizade floresceu de imediato. Richards vivia para a sua guitarra mas praticava sobretudo sozinho, enquanto Jagger cantava em pequenos conjuntos locais. Começaram a tocar juntos, covers de blues. Passaram o ano seguinte a ensaiar, a ouvir discos e a andar à procura destes nas lojas locais, coleccionando compulsivamente, ainda que com pouco dinheiro. Um ano depois desse primeiro encontro, nascia a primeira e decisiva encarnação dos Rolling Stones.
Under my thumb
Uma canção simples mas muito bonita do disco de 1966, Aftermath, tornou-se sobretudo conhecida pelos piores motivos. Foi enquanto a banda tocava este tema que Meredith Hunter foi esfaqueado por um Hells Angel no célebre concerto de Altamont, EUA, em 1969. Apesar disso, os Stones vão, de vez em quando, revisitando o tema em concertos, fazendo também habitualmente parte dos best-of da banda.
O mito Brian Jones
É relativamente fácil esquecer o papel fundamental que Brian Jones teve na formação dos Rolling Stones, dado que a banda conseguiu não perder gás e parecer ainda mais forte – até hoje – sem ele. Mas nada haveria de Stones se não fosse Jones. Nas palavras do baixista original Bill Wyman: “Ele formou a banda, deu-lhe o nome, escolheu os músicos, arranjou-nos concertos, escolhia o reportório”. Nos anos finais da década de 60, o abuso de álcool e drogas levou-o a um comportamento cada vez mais errático e, sobretudo, fez dele uma pessoa pouco confiável, no que tocava à música. Deslumbrado pela fama, anestesiado por inúmeras substâncias e afastado emocionalmente dos companheiros – o episódio de Richards e de Anita Pallenberg não ajudou – Jones foi sendo afastado, embora se mantivesse membro oficial dos Stones até 1969. Nas gravações de “Let it Bleed” praticamente não contribuiu musicalmente. Prestes a partirem para uma nova digressão nos EUA, os Stones foram avisados que Jones não tinha conseguido um visto de trabalho, devido a condenações anteriores relacionadas com drogas: foi a a desculpa que os restantes membros precisavam. A 8 de Junho de 1969, Jones é informado que está fora da banda que ajudara, e muito, a criar. Refugiou-se na sua casa onde, menos de um mês depois, apareceu morto na piscina. Como muitas outras mortes na história do rock, a morte de Brian Jones está rodeada de mistério e teorias da conspiração. Uma das mais fortes é de que Jones teria sido morto por um homem que trabalhava nas obras da sua casa. A investigação foi reaberta várias vezes, mas nunca se encontraram provas cabais desta versão. Dois dias depois da morte de Jones, os Stones deram um concerto gigantesco no Hyde Park. O evento havia sido marcado semanas antes, como forma de apresentar o novo guitarrista, Mick Taylor. Acabou por transformar-se numa sentida homenagem ao homem que, anos antes, havia sonhado com uma banda chamada Rolling Stones.