Que agradável surpresa!
Os Whitney nasceram das cinzas dos Smith Westerns, banda simpática com um par de discos interessantes mas que nunca passou disso, e acabou em 2014. Dos anos de banda, ficaram laços fortes entre Max Kakacek e Julien Ehrlich (que também fora baterista dos Unknown Mortal Orchestra), que aproveitaram o fim dos Westerns para experimentar coisas novas.
Colegas de casa, ambos sofreram desgostos amorosos mais ou menos na mesma altura e passaram o rigoroso Inverno de Chicago a escrever músicas para sarar as dores de alma. Ao princípio era tudo meio na brincadeira, mas quando escreveram “Golden Days” perceberam que aquilo era mais sério do que parecia. Fizeram mais umas quantas, foram até à Califórnia gravar com Jonathan Rado e assinam um dos discos mais frescos dos últimos anos.
Nas 10 canções de Light Upon the Lake não há grande novidade nas temáticas, os Whitney cantam sobre amores perdidos, saudades, mudanças, tempos difíceis, reflectem sobre quem são e para onde vão – usam as canções para expiar fantasmas e acabam por encontrar a inspiração para seguir em frente.
São na maioria canções sobre coisas relativamente tristes, escritas durante o Inverno com temperaturas negativas e 1 metro de neve nas ruas – mas este disco é a antítese da depressão. Soa incrivelmente fresco, matinal e soalheiro, cheira a dias de sol, que entra pela janela do estúdio de Jonathan Rado (dos Foxygen), que recebeu em Los Angeles os Whitney, gravou e produziu o álbum, com material analógico e sem grandes enfeites. Vem daí, em boa parte, a intemporalidade deste disco, que bem podia ter nascido nos anos 70.
À primeira escuta, a nossa atenção prende-se logo na voz – um quase falsete, delicado, que lembra um certo Neil Young, mas na verdade não lembra assim tanto e é uma voz meio estranha para aquilo que estamos habituados mas que encaixa lindamente nestas músicas, e nem damos conta que quem canta é o baterista.
Por baixo da voz, uma cama florida, com trompetes e violinos, teclados diversos, guitarra acústica e eléctrica, baixo de cordas soltas, que oferecem a cada canção uma boa dose de soul e folk, com um balanço incrível, perpassado por silêncios bem medidos, que fazem as canções andar calmamente em ritmo de passeio, cheias de luz e carregadas de esperança. É bom quando uma música simples é capaz de dar essas disposições ao espírito.
O álbum é curto, 10 canções em meia hora, é leve e ligeiro mas deve ser consumido em doses abusadas. É um perfeito disco de Verão que assenta perfeitamente nos dias dourados deste mês de Setembro.