Depois de saborearem o sucesso trazido por Sex & Food, os Unknown Mortal Orchestra exploram novas formas de fazer música.
Reconhecemos uma música de Unknown Mortal Orchestra quando ouvimos uma: o tom de guitarra, que parece saído de um amplificador a pilhas, e a voz sempre jovial de Ruban Nielson a harmonizar consigo mesma. V, o quinto disco de estúdio do projeto neozelandês, é um disco muito mais íntimo que o seu antecessor, Sex & Food. Depois do sucesso trazido por “Not in Love We’re Just High” e “Hunnybee”, não será descabido ver este disco como uma espécie de Tusk: um disco duplo, menos interessado em agradar às massas do que em seguir a musa por onde quer que ela leve o artista. Uma prova disso é que, apesar de contar com uns quantos, não há neste disco um single óbvio, por muito orelhudas que sejam algumas das suas músicas.
“The Garden” abre as hostilidades com um refrão repetido como um mantra, mesmo depois de um solo de guitarra climático que ameaçava acabá-la em beleza. Os seus seis minutos são o aviso de que este disco não vai apressar nada. “Guilty Pleasures” é clássico UMO: produção lo-fi, letra apocalíptica, e uma progressão de acordes que só poderia sair das mãos de Nielson.
Como costuma ser tradição nos discos duplos, a longa duração permite ao artista explorar novas rotas e estilos. “The Widow” é uma suite em três partes, com uma introdução funk, uma cama de jazz, com um solo de saxofone em “The Widow”, processado até se confundir com um sintetizador, e uma coda com apenas piano e o som de pássaros. Da mesma forma, “Shin Ramyun” parece extraída de uma jam no estúdio, semelhante às que resultam na série SB que a banda lança todos os anos, ou o disco IC-01 Hanoi, de 2018. Esta veia mais contemplativa chega à sua conclusão lógica em “Keaukaha”, um devaneio ambient ancorado pela guitarra reverberada de Nielson.
Apesar da melancolia ser uma das marcas do som do grupo, nem tudo é sombra. Por exemplo, “Meshugga”, em vez de fazer qualquer tipo de referência à banda de metal, é em vez disso um trocadilho com o refrão da canção (You give me sugar). E quem é que alguma vez imaginaria ouvir uma música dos Unknown Mortal Orchestra chamada “I Killed Captain Cook”? Já para o final “The Beach” é todo o sol e maresia que o seu título promete e “Drag”, que acaba o álbum é toda ela descontração à la Steve Hiett.
Para os fãs que apreciem discos mais consistentes e focados a nível conceptual, V será talvez um disco sem direção e o presságio do eventual declínio. Para quem aprecia o lado mais esotérico dos UMO este disco será, sem dúvida, uma revelação.