E após a permanência doentia da persistente matéria cinzenta, que não nos abandonava a consciência, eis que chega uma boa altura para nos lembrarmos que o sol ainda existe.
E é do sol que nos fala este último trabalho dos Tristesse Contemporaine. Ainda que o nome da banda seja um contra-senso face ao titulo do álbum (quem sabe se a intenção de antítese não é propositada), Stay Golden vence pela luminosidade.
O trio apátrida escolheu Paris como local para base das operações. Narumi é japonesa, Maik é inglês e Leo é sueco. Conclusão, tudo junto e bem baralhado, o resultado é uma reprise condimentada do que os sintetizadores e as caixas de ritmos sobre a bateria vieram fazer ao new-wave de crista em baixo.
Confesso que os sintetizadores não me assustam. Aliás, sou da opinião que as máquinas vieram fazer muito pela música moderna. São uma consequência natural da evolução electrodoméstica com que todos nós compactuamos, sem o mínimo de pejo nem comedimento. A música é apenas mais uma forma da cultura cimentar as suas opções.
Stay Golden é um disco declaradamente juvenil, que nos relembra que o verão e o sol são imprescindíveis para realizarmos a fotossíntese da despreocupação.
O álbum começa com um reclame às altas temperaturas. “Fire” é calor e prova disso é a sua quente linha de baixo. E a seguir, a coisa vai por aí acima, entre melodias com beats dançáveis sem chegarem a ser iscos de pista de dança. Os sussuros de Leo distanciam-nos da electrónica basilar e conseguem levar-nos para perto das nossas memórias dos verões escaldantes da nossa adolescência eterna. De repente, “I Do What I want”! Leo Hellden arreliado com a formatação da sociedade dita desenvolvida, tenta romper com os contratos. Irreverente? Talvez esta até pudesse ser do Iggy da era Sputnik.
Mas é nas chamas de “Burning” que a electro-pop galicista explode. Coberto por uma patine de charme e com muito baixo (o baixo que nos fala por dentro e que ressoa nos nossos peitos), este tema confirma a apetência do trio.
Este disco vem destapar uma série de influências new wave e pormenores da electrónica pós-punk dos anos 80. Disso não há dúvidas. Mas também não há dúvidas de que estamos perante um disco com propriedade e carisma.
Melodias que evoluem para territórios mais dançáveis, sem que isso seja evidente ou forçado, ou demasiadamente minimal. Tudo é cantado, à laia de canção pop de carácter alternativo. Et voilà!