Happiness… Is Not A Fish That You Can Catch, da banda alternativa Our Lady Peace, foi um álbum que estreou em primeiro lugar nas tabelas de álbuns Canadianos da Billboard em Outubro de 1999. Verificado 3x Álbum de Platina, foi um dos maiores esforços do Rock Alternativo da história da música Canadiana.
Lançado entre Clumsy (1997) e Spiritual Machines (2000), considerados como sendo as duas maiores pérolas de sempre por parte da banda, Happiness… (vamos abreviar que senão só acabo de escrever isto daqui a quinze dias) foi recebido por parte dos fãs como autêntico ouro, mas por parte dos críticos musicais de forma muito mista: com alguns atacando o álbum baseando-se na experimentalidade vocal de Raine Maida e outros dando louvor a esta, à habilidade musical da banda e às músicas em si.
O álbum abre com o single “One Man Army”, reconhecido pela revista Canadiana de música RPM como single número um durante um mês e uma semana. Um tema frio, forte, e estridente, perfeito para começar uma viagem através de um dos melhores álbuns da música alternativa. Procedemos para a música que dá o título ao disco, “Happiness is Not a Fish” e “Potato Girl”, duas das músicas mais experimentais do álbum, mas não as mais experimentais. No entanto é, provavelmente, nestes dois temas que encontrámos, solidificado, o género de música que os Our Lady Peace fizeram sob a produção de Arnold Lanni (também produtor do que eu diria serem os melhores álbuns de outra banda de Rock Canadiana, os Finger Eleven).
Seguimos para bingo, com uma balada lindíssima. “Blister” demonstra uma execução excelente de um tema que é o favorito de muitos fãs da banda. Foi, também, este que deu o nome à tour do álbum, a ‘World’s A Blister Tour’. Fico, ainda, passados imensos anos desde que ouvi este álbum pela primeira vez, surpreendido por este não ter sido um dos singles do álbum, tendo em conta que é considerado até, por muitos, como a melhor criação da banda em mais de 22 anos de existência.
O álbum rasga, então, para a segunda parte, com o segundo single, “Is Anybody Home?”. Tal como muitas outras músicas dos OLP, este aborda temas como o isolamento individual e a adopção de falsos valores através de computadores, televisões e aparelhos electrónicos (estes últimos temas tendo sido ainda mais aprofundados em Spiritual Machines).
“Waited” é, provavelmente, no olhar de muitos, o tema que passa mais despercebido, mas no entanto igualmente poderoso, do álbum. No entanto, é seguido pelo terceiro single e talvez a execução mais conhecida do disco, “Thief”: uma balada pesada em tema, inspirada pela história de uma menina com cancro em fase terminal que era, então, muito próxima da banda, e já não se encontrava entre nós quando o álbum foi lançado.
Seguimos para “Lying Awake”, uma música alimentada por metáforas frias e fortes sobre Benny Hinn, um infame televangelista, conhecido por enganar pessoas através da religião, acompanhada por uma musicalidade experimentalmente brilhante.
Restam-nos três músicas, “Consequence of Laughing”, “Annie” e a que, para mim, será o momento alto desta produção: “Stealing Babies”. As três têm algo importante em comum: é nestes temas que Raine Maida explora mais a sua capacidade como frontman, demonstrando um enorme alcance vocal louvado por muitos apreciadores da música dos 90s. Mas há, também, algo que difere imenso as duas primeiras da música que fecha o álbum: a melodia. Em “Annie” e “Consequence of Laughing”, ouvimos uma melodia leve, alegre, ainda que acompanhada por poemas que descrevem histórias contrastadamente negras. Em “Stealing Babies”, a história é diferente. Semelhante a “Thief”, este tema (que conta com a contribuição de dois bateristas, Jeremy Taggart da banda, e a falecida lenda do Jazz, Elvin Jones, como convidado) é sobre a história de uma criança muito nova infectada, hereditariamente, por Sida. A melodia, a letra, e no geral o tema em si é carregado de negatividade. Digo isto no bom sentido. Gostaria de poder descreve-lo melhor, mas a única coisa que posso fazer é recomendá-lo pois, a meu ver, não há palavras com as quais consiga falar mais deste esforço.
Ouvi este álbum pela primeira vez, provavelmente, em 2005. Tem-me acompanhado ao longo da minha vida e do meu crescimento e, apesar de ser negligenciado por muitos fãs da banda que aceitam o mais leve Clumsy, o mais pesado e ingénuo Naveed (1994), ou até o brutal hifi Spiritual Machines, é Happiness… Is Not a Fish That You Can Catch que ganha o prémio como o melhor álbum desta banda, e até um dos melhores de sempre do Rock Alternativo Experimental. E não posso deixar de o recomendar, sendo que é a minha referência número um quando falo a alguém deste maravilhoso grupo que, infelizmente, caiu no esquecimento de muitos após o início do novo milénio.
Texto de Eduardo Marques