I Feel Alive é um disco introspetivo para dançar ao som de coloridos sintetizadores saídos de décadas passadas, guitarras solares e a ocasional flauta.
Nascidos em Montreal, Canadá, em 2011, os TOPS têm cruzado discretamente os meios indie com o seu pop nostálgico a piscar o olho ao soft rock. Contando com três discos no currículo, o último dos quais Sugar At The Gate, de 2017, já nos habituaram à sua característica atmosfera chill, quase lânguida, pontuada por guitarras solares e pela voz etérea de Jane Penny.
I Feel Alive, o quarto álbum dos TOPS e o primeiro na sua própria label, Musique TOPS, é lançado a 3 de abril de 2020 e parece ter aproveitado a base sólida que Sugar At The Gate construiu para continuar o bom trabalho e crescer, trazendo-nos mais canções leves e coloridas que pedem dias mais luminosos. É, como o descreve Jane Penny, um disco introspetivo para dançar.
O álbum abre eufórico com a maravilhosa “Direct Sunlight”, onde se destacam sintetizadores cintilantes a soar a décadas idas. “Get a load of that sunshine in your life”, canta Penny envolta em várias camadas de vozes que parecem trazer-nos, precisamente, um bocadinho mais de sol. O quadro é completado com um doce solo de flauta executado pela própria Penny, instrumento a que pôde dar mais atenção neste disco com a inclusão da teclista da tour anterior, Marta Cikojevic, na banda. “I Feel Alive”, faixa seguinte e um dos singles de apresentação, tem um humor diferente, falando de uma relação em que nem tudo parece correr bem. Ainda assim, no refrão, voltamos a ter uma cascata de coros apaixonados (“I feel alive looking in your eyes”), à qual se junta também a voz de David Carriere, cuja guitarra é estrela nesta faixa.
“Pirouette” mantém o ritmo bem-disposto das canções anteriores, bem como os seus sintetizadores vintage. Esta onda é quebrada pela balada chorosa “Ballads and Sad Movies”, nome que parece, no mínimo, cliché. Melancólica e desmedidamente romântica, discorre sobre a falta que faz alguém que já não está lá após o fim de uma relação. Os synths, também eles melancólicos e melosos, só sublinham este ambiente mais calmo e triste, onde encontramos Jane Penny “Looking out at the cold world”, num suspiro ultra trágico a roçar o risível que constitui o pináculo do cliché. Penny conclui que já nem as suas baladas e filmes tristes favoritos fazem algo por ela. Não será a canção mais inspirada da carreira dos TOPS, mas há um certo charme na ideia de aceitar o cliché e usá-lo em seu favor, construindo à sua volta toda a estética da canção. Segue-se “Colder & Closer” que vem afastar as nuvens escuras e trazer de volta o sol. O segundo single de apresentação do disco é um refrão pop etéreo e dançante que faz lembrar o som dos portuenses Best Youth.

Entrando na segunda metade do disco, “Witching Hour” continua no mesmo tom ritmado que pede um discreto abanar de anca e nos deixa a entoar o refrão catchy. “Take down”, por seu turno, é um curto interlúdio em que quase só ouvimos notas soltas da guitarra e suspiros de Penny. Felizmente chega “Drowning in Paradise” para nos tirar a sonolência. Uma gravação de um latir de um cão dá a deixa para a entrada eléctrica e bubbly desta canção docinha e carente sobre amor e “only you and I tonight, drowning in Paradise”. Há coros que respondem a Penny entoando “show me love” e uma guitarra a marcar o ritmo e, mais uma vez, cumpre-se a promessa de um disco para dançar. Tirando a inédita secção spoken word em francês que surge sem percebermos bem de onde e com o possível propósito duvidoso de colar à canção uma estética de que esta não carece, a faixa é ótima e termina abruptamente com a repetição da mesma sample canina.
A fechar o disco há ainda “Ok, Fine, Whatever”, saltitante e com a já comum patine pop nostálgica e difusa, “Looking to Remember”, onde volta a surgir a flauta e se fala de confiança, e “Too Much”, mais calma e introspectiva.
I Feel Alive é um álbum que passa por sentimentos e humores diferentes, mantendo sempre como denominador comum a voz vaporosa da vocalista, que faz com que passemos fluidamente canção em canção. Os poemas são pouco extensos e descomplicados, estando a força de cada faixa na produção cuidada, da responsabilidade dos próprios David Carriere e Jane Penny, que nos traz instrumentos vindos de algures nos anos 80 e sobreposições de vozes suaves, criando assim bonitas texturas que são deliciosas aos ouvidos. Não sendo, em princípio, candidato aos “tops” do ano (gracinha à parte), os TOPS presentearam este conturbado 2020 com mais um disco coeso e cool que sabe a verão e a noites quentes, bom para ficar a tocar no fundo enquanto realizamos aquelas tarefas corriqueiras que requerem um pouco mais de cor e luz solar. Ficamos assim com água na boca para quando a tour de apresentação, que teve de ser forçosamente cancelada, possa acontecer e inclua, esperemos, uma passagem por Portugal, onde dançaremos introspetivamente, como dizia Penny.