Estar em 2019 e sentir 1996 nas trombas é algo que não acontece todos os dias.
Sei precisamente qual a razão pela qual os Tool nunca me tinham batido naquele fim dos noventa / início do milénio: por que sou um idiota que por vezes não enxerga buceta nem que me a esfreguem na tromba. Isso e porque pensava que Tool era metal. E, nesses tempos idos, o metal parecia-me uma cena pesada e viril mas também demasiado dramática, com os seus virtuosismos de bateria e vozes oscilando entre raiva e doçura, com demasiada produção e preocupação estética. Enfim, nunca entrou, e eu, feito estúpido, ainda chorava pelo grunge. Mas aquilo não é bem metal.
Celebrando a sua entrada no Spotify (como bom marxista que sou apenas consumo música por este meio e se tiverem algo contra eu quero é que se fodam), revisitei então o álbum de cujo título ainda me lembrava: Aenima. Mind blowing, carago.
Músicas longas, métricas libertárias, poli-ritmos, e uns power chords do caralhete. Empolgante, excitante do ponto de vista rítmico, ouvi-lo de uma ponta à outra dá a sensação de se ter assistido a uma ópera, com os seus actos e interlúdios, sem nunca no entanto soar a petulante. É com a última do álbum, Third Eye, que me relembro das palavras legendárias do Bill Hicks (que por acaso é apenas uma das melhores pessoas do mundo) e de repente tudo nesta viagem fez sentido. “If you don’t believe drugs have done good things for us, do me a favour: go home take all your tapes all your albums all your cds and burn them. Cuz you know what, the musicians who made all that great music that’s enhanced your life throughout the years…..real fucking high on drugs”
Aenima é, basicamente, rock psicadélico. E é um dos melhores jamais feito.