Os Strokes voltaram e estão muito mais crescidos do que da última vez que os vimos.
Não fazia sentido nenhum. Os investimentos de Julian Casablancas nos Voidz viram-no receber algumas das suas melhores críticas em quase dez anos, Albert Hammond, Jr. parecia embrenhado de alma e coração na sua carreira a solo e os Strokes passaram a maior parte da década passada a estagnar. E, no entanto, basta ouvir as primeiras notas de “The Adults Are Talking” e sabemo-lo: Os rapazes voltaram. A linha de baixo e a guitarra remetem à sonoridade clássica dos Strokes que hoje em dia parece tão distante. O que é que se passa?
The New Abnormal, anunciado no início do ano, é um divisor de águas na carreira dos Strokes e isso foi evidente imediatamente nos singles que precederam o lançamento do disco. Os sintetizadores de “At the Door” e “Brooklyn Bridge to Chorus”, veem o grupo a caminhar mais decididamente para o rock retrofuturista a que os Voidz nos habituaram. Por outro lado, é impossível não pensar em Is This It e Room on Fire ao ouvir as guitarras cintilantes de “The Adults Are Talking” e “Eternal Summer”, uma canção que bem poderia ser o hino deste verão se este não for também cancelado.
No departamento vocal, Julian Casablancas está em boa forma. Nunca o ouvimos tão despido, a sua voz praticamente sem efeitos e sem estar escondida no meio dos instrumentos. Liricamente está mais audaz e isso reflete-se na estrutura das canções. Os Strokes nunca se afastaram muito da fórmula verso->refrão mas The New Abnormal requer escutas múltiplas até se conseguir delinear a estrutura de cada música. Tudo isto poderia resultar num disco incoerente e desconcertante, não estivessem os arranjos tão bem oleados. Em “Ode to the Mets”, que fecha o álbum, somos assaltados por múltiplas secções diferentes com mudanças de dinâmica e instrumentação. Mas, ao longo da maioria da música a mesma linha de teclado mantém a canção em bom porto e impede o ouvinte mais desatento de se perder no meio da canção.
É difícil para uma banda manter-se interessante vinte anos depois de lançar o seu primeiro disco. Requer curiosidade, coragem e abertura de espírito. Que os Strokes tenham conseguido lançar um disco tão bom em 2020 é impressionante. Que o tenham feito uma década depois do seu último lançamento de relevo, é um milagre. Mas eles voltaram e lembraram-nos porque é que os ouvimos desde 2001.