Corria o ano de 1995. A idade era curta: uns meros 13 anos. Era a primeira vez que estava a trabalhar a sério, de forma remunerada, assumindo a posição de um de quatro “gestores” de um bar de praia. Resumidamente: um trabalho de sonho na entrada na adolescência. Bom dinheiro, boas companhias, biquínis e bolas de Berlim, e uma aparelhagem com aquelas colunas “à antiga”, com dois (dois!) decks de cassetes e um leitor de discos que não funcionava.
Foi também aqui a entrada do meu ouvido na música boa que se ouvia na altura. Até aí tinha vivido aprisionada pelas músicas dos finais dos anos 80 e início dos anos 90, um bullying musical instituído pela minha irmã que ainda hoje me leva à terapia (às vezes acordo de noite suada e a gritar que não quero ouvir Phil Collins). Ainda tenho calafrios ao adicionar aqui nomes como o de Madonna.
Este verão foi tão profícuo que comprei uma viola com o meu primeiro salário e aprendi a tocar (pouca coisa ou quase nada) na esplanada, à beira da praia, pelas mãos do Facadas. Figura hipster que lá parava durante o dia. Tinha rastas e dormia numa tenda no alto da praia. Para ficar bem vista, posso assegurar que aprendi a primeira parte de “Come As You Are” (Nirvana), versão simples. Repeti tanta vez que ainda hoje me lembro.
É neste contexto que alguém me grava uma cassete de Offspring. Não me lembro de quem foi, mas recordo-me que era daquelas cassetes boas, transparentes e de 90 minutos. Se ainda a tivesse hoje, colocava-a numa moldura e punha na minha mesinha de cabeceira. Era o álbum Smash, lançado no ano anterior: 1994.
Imaginem então o cenário: eu era a mais nova, rodeada de malta, vá diferente (mais velhos 8 a 10 anos). O mar está ali, o cheiro a maresia também, assim como o do açúcar das bolas de Berlim. A aparelhagem está ali e tem uma caixa registadora em cima. Play. “Ah, time to relax…”. E surgem 25 segundos de uma voz forte que nos sugere que relaxemos com um copo de vinho. Sapatos pelo ar, pernas para cima, encostados num qualquer cadeirão: “…and just enjoy the melodies. After all, music soothes even the savage beasts”. E a seguir entra “Nitro”. Palavras para quê… Façam como ele diz.
Todo o álbum é rico nesta excentricidade sonora, numa verdadeira libertação. De facto, é considerado o álbum mais vendido de todos os tempos por uma gravadora independente, uma liberdade difícil de alcançar nos dias de hoje. É como um filme clássico que ainda não foi visto. Este álbum não pode falhar, tem de ser ouvido do início ao fim, fazendo alguns repeats pelo meio: “Self Esteem”, “Come Out And Play (Keep ’em Separated)”, entre outros…
O álbum cheira a anos 90, tresanda mesmo. Mas ouvido hoje consegue nos atingir na nossa actualidade e modernismo, sem medos e direto à caixa torácica. Os pulmões enchem-se e a garganta acompanha. Quem nunca?