Durante muito tempo David “Noiserv” Santos habituou-nos a trabalhos profundamente intricados, onde vários instrumentos e linhas vocais se entrelaçavam num complexo novelo de loops que nunca desiludiram.
Uma certa dose de melancolia e uma imagética de cores esbatidas foram, durante esse tempo, aquilo que nós, ouvintes, mantínhamos presos na cabeça, mal essas música nos entravam pelos ouvidos. Almost Visible Orchestra (2013) foi um portento, Everything Should Be Perfect Even If No One’s There (2014) manteve a fasquia, e a imagem de marca Noiserv solidificou-se. Hoje tudo mudou e o primeiro prenúncio dessa alteração aparece logo no momento em que pegamos em 00:00:00:00.
Um quadrado de plástico fino, transparente, onde a única coisa que se vê é o nome “Noiserv”. Ao desdobrá-lo, o CD em si. Todo ele completamente transparente também – preparem-se para inseri-lo ao contrário no leitor de CD’s muitas vezes. À falta de referências visuais externas a vontade de o ouvir fica a ganhar e, realmente, quando se carrega no “play”, há muito para descobrir.
Neste novo trabalho, o multi-instrumentista português veste umas roupagens novas, semelhantes às que apresentou na banda-sonora de José e Pilar. A confusão de instrumentos deu lugar à simplicidade do piano, um só, e às letras, todas cantadas em português. Com uma simplicidade tremenda Noiserv enche-nos as medidas e os corações num estilo que oscila entre Yann Tiersen e Bernardo Sassetti – nenhum deles se sentiria defraudado com a comparação, seguramente.
Alguém disse uma vez que “o menos é mais” e isso comprova-se aqui, ao longo das oito músicas de 00:00:00:00. A simplicidade do involucro faz justiça à das músicas, principalmente à “Três” (ironicamente, a primeira música do disco), por exemplo.
Tranquilidade, amor e muita simplicidade são algumas das palavras que melhor caracterizam este volte-face na linha estilística de Noiserv e isso é óptimo. Os dias de chuva estão aí e esta é a banda sonora ideal para os acompanhar.