Sabemos que os discos maiores dos National estão lá atrás, mas talvez não estivéssemos preparados para isto: a banda está num dos seus melhores momentos de palco de sempre, e Lisboa viu dois concertos de mais de uma vintena de canções em que apenas uma foi repetida (o final, sempre aquele final). O Altamont esteve na primeira dessas noites.
Um concerto dos National em Portugal não é novidade para merecer primeiras páginas de jornais – foram já bastantes, talvez perto das duas dezenas, para públicos menores, em salas fechadas, em festivais, um pouco por todo o lado. O que motiva então tanta gente a continuar a querer ver a banda de perto e, talvez mais surpreendente, a haver novo público para uma banda cujos últimos discos até nem têm merecido estatuto de culto, à imagem de dois ou três álbuns do passado? Perguntas que fazem pensar, mas pouco relevantes – na verdade, o que o Campo Pequeno viu foi uma banda em plena forma, dona de grandes canções, com o público conquistado desde o começo mas que, mesmo assim, nunca facilitou.
Matt Berninger, o vocalista e grande parte da alma, já teve dias conturbados, mas parece viver agora um bom momento – a entrega e o carisma são as de sempre, mas a voz está particularmente no ponto nesta que foi a reta final da digressão europeia de apoio a First Two Pages of Frankenstein, disco editado no começo deste ano e que até já tem um sucessor – Laugh Track.
Os alinhamentos são sempre motivo de conversa quando falamos de bandas com tanto repertório de mérito – o gesto arriscado de não repetir nenhuma canção nas duas noites lisboetas, aparte o final de sempre com “Vanderlyle Crybaby Geeks”, acentua naturalmente as conversa dos devotos. É tudo uma questão de gosto – numas noites ficam algumas das nossas preferidas na prateleira, mas em todos os concertos tem havido mimos para os fãs. “Brainy”ou “Conversation 16” foram alguns dos destaques da primeira noite em Lisboa.
O segmento dedicado a Alligator, permitam-nos os fãs mais acérrimos de Boxer e High Violet, foram dos mais emotivos e furiosos – “Abel” ou “Lit Up” tanto mexem com o coração como com a anca, e são canções que envelheceram muito, muito bem.
Num concerto dos National há rock, exploração, baladas, piano, guitarras destemidas. Nunca sabemos bem ao que vamos, nomeadamente que canções vamos ouvir, mas nunca deixamos de sentir que estamos a regressar a casa. Durante duas noites, o Campo Pequeno e a beleza agridoce e intempestiva dos National foi, uma vez mais, nosso porto de abrigo.
Fotografias de Tiago Cortez, cedidas pela organização.