Todos sabemos que uma reunião de condomínio é um acontecimento aborrecido e que, por vezes, até sucede terminar em discussão, mas a que assistimos na segunda-feira à noite, no Teatro Maria Matos, desafiou as reuniões de moradores como as conhecemos.
Estivemos presentes no concerto de apresentação do disco de Rogério Charraz & os Condóminos, Reunião de Condomínio. Se o conceito é único e original (“um disco em forma de prédio”, como lemos no comunicado para o novo álbum), o concerto aproveita o conceito e elabora-o de maneira teatral. Começando pelo palco com a imagem do prédio e das suas duas janelas (as ilustrações do disco são da responsabilidade do músico Samuel Úria), adornado com os tapetes dos vários andares com a mensagem “Bem-Vindos”, a típica planta que embeleza as entradas de tantos prédios, e a terminar no placard onde são colocados os avisos.
No disco, e no concerto, ficamos a conhecer as crónicas dos vários condóminos. Estas narrativas foram concebidas pelo parceiro artístico de Charraz, José Fialho Gouveia, escritor das letras do disco, que nesta noite foi o narrador da reunião, e assim fomos ouvindo as histórias dos moradores deste prédio de cinco andares.
Não vou desvendar demasiado acerca das personagens, o interessante é ouvir o disco, ou assistir a um dos concertos e descobri-los. Mas podemos confidenciar que o administrador do condomínio, o hipocondríaco Vitorino, é a figura principal (ouvimos a canção, mas sentimos falta do seu “actor”, o Quim Barreiros). Também ficámos a conhecer, entre outros, o benfiquista Eduardo, do 2º Esquerdo, e as suas idas solitárias ao Estádio em “Amanhã à Mesma Hora”; o Xavier do 2º Direito, e as suas lutas internas no tema “Fé em Nós”; e até chegamos a conhecer pessoalmente a vizinha que “veio do outro lado do mar”, interpretada por Luciana Balby, a canção que a apresenta e à sua família é “Vista para Ficar”; e a Bárbara do 4º Direito, que interpreta a canção “Isso Não é Razão” , na voz de Catarina Munhá.
Não podemos deixar de salientar a banda “Os Condóminos”, com energia de big band, e todos os envolvidos na parte cénica do espetáculo, em todas as canções interpretadas tínhamos a fotografia (ilustração) dos moradores, esta reunião é muito mais que um concerto, as canções sem o cenário não seriam as mesmas.
Como apontamento final, o concerto não terminou sem o dueto entre Rogério Charraz e Catarina Munhá com a canção que muita emoção arrancou do público “Quando Nós Formos Velhinhos”
Deixando novamente em acta a recomendação que este é um disco que vale a pena ver ao vivo, as próximas datas são no sábado, dia 14, em Tábua e no 22 deste mês no Novo Ático – Coliseu Porto Ageas. Procurem esta reunião de condomínio que prometemos que não vai ser igual às que estamos habituados.
Fotografias: Beatriz Marques