Uma sala muito bem composta para assistir ao Altar dos alcobacenses The Gift. O Coliseu foi palco de boa música e de partilha de carinho em forma de canções, ritmo, dança e muitos sorrisos de alegria.
Já todos sabíamos que a noite seria de festa. A banda que Alcobaça deu ao mundo há mais de duas décadas, mostrou, em Lisboa, o Altar que tem rodado pela Europa nos últimos dias, uma semana depois do concerto de Londres de que aqui demos conta numa reportagem bastante especial. Na capital, depois de na véspera terem tocado na Invicta, os The Gift fizeram a maior das vénias ao seu público fiel, traduzida num concerto de elevado nível, levando ao palco pequenos pedaços da sua já longa história. O passado e o presente uniram-se e foram muitas as canções que estiveram de mãos dadas em total celebração.
Já com a sala quase esgotada, todo o Coliseu teve de esperar mais um pouco para ver e ouvir a banda de Sónia Tavares, Nuno e John Gonçalves e Miguel Ribeiro. Na primeira parte, a música foi outra e veio do norte, bem mais acima da terra natal das estrelas da noite. Chama-se IAN, nasceu russa, mas é no Porto que reside. Cantautora e primeira violinista na Orquestra Sinfónica dessa cidade, a moscovita trouxe até ao Coliseu um pouco da sua música, misturando elementos sonoros diversificados, fundindo acusticidade, eletrónica, trip-hop e um toque de dream pop mais adocicado. A sua voz e o incontornável violino soaram o suficiente para que nos parecesse um interessante aperitivo para o esperado prato principal: The Gift.
Depois de quinze minutos de countdown, uma colagem de variadíssimos excertos de filmes em que o termo Gift surge como palavra dita, o concerto começou com “Lost and Found” e em “Vitral” aconteceu o primeiro bom momento da noite. Os The Gift estão muito bem oleados na forma como se afirmam em palco e isso nota-se lindamente. O concerto foi gravado em áudio (a informação desse facto foi dada pela própria Sónia Tavares) para que dentro de dias o download do concerto possa ser feito através de um inovador sistema promocional.
“Big Fish” foi um estoiro, o tiro certeiro do costume, assim como a eletrizante “Malifest”. Boa surpresa foi o tema “Doctor”, da coletânea 20, ter feito parte do alinhamento da apresentação deste Altar ao vivo. A noite ainda mal tinha começado e “The Race Is Long” deu continuidade à enorme discoteca que a arena do Coliseu se tornou. Ninguém se fez rogado aos avanços de ancas e pés, até chegarem alguns momentos de acalmia, como aconteceu com a já antiga “Guess Why “.
E assim foi surgindo as canções, cirurgicamente escolhidas para que pelo meio de ritmos mais contundentes, houvesse instantes de calma e respiração, algo bastante apreciável, uma vez que o calor de uma casa quase cheia foi-se fazendo sentir.
Como era “sábado à noite”, a canção não podia faltar. O “coro” de milhares de vozes ouviu-se bem. Isso e copos de cerveja no ar ao ritmo de uma qualquer brisa imaginária. O mesmo aconteceu com “Music”, entoada do princípio ao fim pelo público presente. “Driving You Slow” fez de novo a festa animar-se, como seria de esperar.
Numa banda com vinte e três anos de carreira discográfica, é inevitável recuar até aos primórdios. “Ok! Do You Want Something Simple?” foi a escolhida para que o regresso a 1998 se fizesse num instante. Ainda hoje soa bem, convém dizer, o que é sempre bom sinal. Depois, um pulo no tempo até à festiva “RGB”.
Altar voltou ao palco através de “Love Without Violins”. O último terço dessa canção é dos melhores momentos que os The Gift alguma vez criaram, e resulta maravilhosamente ao vivo, ainda melhor do que em disco. Segui-se “Clinic Hope”. O espetáculo crescia canção a canção, e chegava a altura de terminar. No segundo seguinte, já se pedia o encore.
E assim foi. “I Loved It All” foi a escolhida para o regresso ao palco, seguindo-se a altariana “You Will Be Queen”. Nova retirada de palco, nova manifestação de vontade para que o regresso se desse sem grandes perdas de tempo.
“Talvez por não saber falar de cor”, Sónia Tavares cantou, no início do segundo encore, “Fácil de Entender” apenas acompanhada ao piano (portátil) por Nuno Gonçalves e pelo imenso “coro” das vozes anónimas do público. Quase a acabar, ainda houve tempo para a dançante “Question of Love”.
Os The Gift estão em plena forma e parece-nos que não será fácil repetir um álbum como o que serviu de base ao concerto a que assistimos. O tempo o dirá. Resta o desejo que venham mais décadas como as que passaram e mais noites como a de Sábado!