Na passada sexta-feira, decorreu a segunda edição portuguesa da Red Bull Music Culture Clash. Quatro equipas, cada uma no seu palco, digladiaram-se num combate musical.
No palco 1, Capicua liderava a sua guerrilha cor-de-rosa, metade combate feminista, metade transbordante sensualidade (não há antítese, o feminismo dá-nos tesão). No palco 2, o pós-rock dos Paus comandava o hip-hop dos Pedra: Holly Wood, Mike El Nite e Silk fuzilando-nos com as suas rimas e batidas. No palco 3, o fenómeno da internet Richie Campbell (R&B nacional) dirigia a sua trupe de artistas da Bridgetown (sobretudo Djs associados à editora com o mesmo nome). No Palco 4, Rui Pregal da Cunha dos Heróis do Mar conduzia os Ultramar, três bandas enormes (Capitão Fausto, Memória de Peixe e Throes & the Shine) que não terão grande culpa do rótulo salazarista que lhes impingiram.
Na rixa entre os gangues, valeu tudo menos arrancar olhos: bocas, sátiras musicais aos adversários, convidados surpresa tirados da cartola, e, sobretudo, bom e descomplexado entretenimento (não é pecado entreter). Saudamos a mixórdia de estilos musicais (hip-hop, pop/rock, reggae, funk brasileiro, música popular portuguesa, pimba, soul, kuduro, R&B, tudo ao molho e fé em deus). Na diversidade é que está o ganho.
O próprio público era o júri do combate, votando as suas preferências através dos decibéis das suas ovações. Numa disputa renhida até ao fim, acabou por ganhar a crew dos Paus e Pedras, mas supomos que a promessa de um troféu foi só um ardiloso pretexto. O que realmente moveu artistas e público foi o prazer de jogar. Como quando éramos pequenos, matando os nossos amigos com pistolas de pau.
Fotografia: Inês Silva