Tudo aponta para que Songs of a Lost World não seja o último disco dos Cure. A boa notícia é que, se os discos seguintes tiverem esta qualidade, teremos mais negritude para festejar; a menos boa, temos de reconhecer, é que este seria um epílogo de honra para uma carreira ímpar.
Disco negro, denso e envolvente, Songs of a Lost World é o primeiro álbum de originais do grupo de Robert Smith em 16 anos, mas nada temam os fãs de sempre: aos primeiros acordes de “Alone”, faixa de abertura, o imaginário de sempre dos Cure regressa como se, na verdade, nunca tivesse partido.
A morte e o romance são os temas recorrentes, como o foram desde sempre – Songs of a Lost World poderia perfeitamente ter sido editado meses depois do clássico Disintegration, de 1989 – para o escriba, tal representa um elogio, mas é perfeitamente natural que para muitos tal não o seja.
Reencontrar os Cure em disco em 2024 é como voltar a ver um amigo de décadas, revisitar um livro, um local, um espaço. São 50 minutos de música – nem metade dela cantada (as introduções são quase sempre longas) – frágil e repleta de nuvens, disco perfeito para um outono que se transforma em inverno de recolha.
Songs of a Lost World não vai trazer novos fãs aos Cure, nem tal era suposto. Vai intensificar e refrescar, isso sim, um relacionamento com os fãs que nos últimos anos viveu em exclusivo do palco.
As melhores faixas? Exercício difícil num disco que vale mais pelo todo que pela soma das partes, mas arriscamos “And Nothing is Forever”, “Warsong” e o fim, “Endsong”, dez minutos gloriosos, bateria, sintetizadores, a guitarra, aquela guitarra, a voz lá mais à frente, negritude. A morte continua a assentar-lhes tão bem.