Ao décimo disco da carreira, os Coral regressam à boa forma com Coral Island, que conta a história de uma cidade imaginária, tornada viva pelas nossas memórias de infância.
Surgidos na mesma altura que o fenómeno indie começava a dar os primeiros passos, cedo se percebeu que os Coral eram uma banda à parte do resto da enxurrada que se preparava para conquistar o mundo.
Com um primeiro disco homónimo de qualidade, a banda nunca deixou de estar constantemente em estúdio, lançando discos atrás de discos, sempre com uma bitola de qualidade acima da média. No entanto, acabaram por nunca explodir em termos de popularidade, ao contrário dos outros conjuntos britânicos do indie. Isso, no entanto, nunca os impediu de seguir o seu percurso, mesmo perdendo pelo caminho membros importantes da banda.
Em 2021, chega o décimo álbum da sua carreira, um regresso às origens, eles que no disco anterior tinham feito uma mudança de direcção algo brusca, dando-nos um trabalho com mais influências dos anos 80, ao contrário de toda a sua carreira, muito ligada ao psicadelismo.
Durante as gravações desse disco, a banda, liderada por James Skelly, começou a guardar ideias sobre um álbum temático (e não conceptual, como afirmaram em entrevistas) baseado numa cidade fictícia. Daí, começou a nascer o embrião deste Coral Island, uma colecção de canções interligadas entre si por pequenas histórias, narradas por Ian Murrary, avô de James e Ian Skelly.
Coral Island é, além de um regresso à boa forma por parte da banda britânica, um triunfo a vários níveis. Terem lançado um disco duplo, com uma narrativa própria, é sempre de enaltecer, especialmente num grupo que já tem mais de vinte anos de carreira. Disco duplos são, historicamente, sempre bestas difíceis de domar, nem todas as bandas conseguem vingar com este formato, mas os Coral conseguem que o álbum não seja aborrecido, nem demasiado longo. Para isto muito contribuem os interlúdios narrativos, estranhos ao início mas muito reconfortantes à medida que ouvimos o álbum em repeat. A voz do avô Skelly enternece-nos, fazendo lembrar a do nosso próprio avô. Tudo isto poderia ser em vão se a verdadeira alma do disco não estivesse presente – as canções – sobretudo pelo seu som atmosférico muito vívido.
Tal como nos é prometido na primeira faixa de Coral Island, aqui podemos apaixonar-nos, e passear tranquilamente pelos passeios, sem nos preocuparmos com o passado ou futuro. Apenas o presente interessa.
Entre canções misteriosas, de esperança ou prometendo aventuras, os Coral ajudam-nos a atravessar estes cinquenta e cinco minutos de disco. As suas letras e música são demasiado vívidas e, juro, consigo imaginar-me numa qualquer feira popular antiga, a desfrutar do luar, enquanto ando na roda gigante. Mas, nem só de felicidade vive este Coral Island. Também nos é dito o que acontece quando toda a gente vai embora da feira e tudo fica vazio. Este disco é, também, um acenar à erosão das nossas memórias de infância que, infelizmente, não conseguiremos viver de novo.
Tudo isto, sob o prisma e filtro psicadélico, novamente influenciado por Beatles, Syd Barret, The Doors, Inspiral Carpets, The La’s, The Kinks ou Small Faces, fazem de Coral Island, um disco bastante prazeroso. E, apesar de ser um álbum que vale, sobretudo, pelo encandeamento das canções intervaladas pelas narrações, não há como não destacar “Lover Undiscovered”, “Change Your Mind” e “Vacancy” ou “My Best Friend”, na primeira parte desta história e “Golden Age”, “Faceless Angel” e “Old Photographs” na segunda. No entanto, engane-se quem possa pensar que poderia passar pelas outras e não ficar rendido igualmente a elas.
Os Coral sempre foram capazes de balançar o seu lado pop com outro mais freak e weird, mas em Coral Island a fórmula terá sido aprimorada. Pena que muita gente continue a esquecer-se que estes rapazes existem…