Aqui me confesso: para um tipo do rock, tenho muitas saudades dos Stereolab.
Agarrei este disco, Entropicalia, pela capa, que me fazia lembrar esses outros britânicos que gostavam de brincar ao easy/electrónica/lounge/pastiche/kitsch, qualquer coisa. Qual não foi o meu espanto, e satisfação, quando percebi que as semelhanças iam para além do lado estético…
Mas vamos por partes, porque despachar os The Soundcarriers como meros discípulos dos Stereolab poderá ser redutor e até injusto.
Este é o terceiro disco da banda cujos membros vêm de Nottingham e de Londres, e que só agora começam a levantar salpicos na grande piscina da cena musical britânica. Entropicalia é um disco solarengo e, dizem aqueles que os conhecem há mais tempo, sintetiza bem o caminho feito até aqui. O seu som conjuga elementos do psicadelismo a la The United States of America ou Melody’s Echo Chamber com estruturas mais clássicas lembrando aqui e ali os também ingleses Saint Etienne ou os Stereolab (nalguns padrões repetitivos e na hipnótica voz feminina), embora com pouca ou nenhuma electrónica, diga-se.
Por outro lado, o bom gosto nos arranjos mostra influências como o trabalho do genial Jean-Claude Vannier para alguns dos melhores discos de Serge Gainsbourg (o baixo carismático sempre presente, a discreta guitarra eléctrica, as cordas).
O trunfo também passa por aí. É a busca de um som que ameaça o easy listening mais vintage e da melhor cepa, mas assente numa bela base instrumental e no desejo exploratório de levar os temas a viajar até onde eles queiram ir; não é uma coisa nova a imitar um artefacto psicadélico, é mesmo um artefacto psicadélico, só que feito em 2014.
Os mais cínicos encontrarão, naturalmente, nalguma falta de originalidade o ponto fraco desta banda, que vive num permanente exercício de estilo revivalista. Mas, tal como permitimos que os cineastas façam o milésimo thriller desde que o façam bem, aplico a mesma máxima à música. Neste caso, estes Soundcarriers fazem um belíssimo som retro, que me faz pensar na Twiggy de mini-saia, na swinging london e no sol californiano em tempos mais puros e mais simples.
E isto não é conquista pequena, nestas horas conturbadas que vivemos.