Há coisas do caraças. Anda um gajo a abrir horizontes, a curtir um kraut ou a ouvir música indiana, para limpar o palato de excesso de pop e de rock, e depois…depois aparece uma guitarra, uns acordes, uma energia. E o velho bicho acorda.
Aconteceu-me isto com Liquid Peace, o novo EP dos portugueses smartini. Os quatro homens de Caldas das Taipas já andam nisto há muito tempo, ainda que de forma intermitente e muito rarefeita em termos de edições discográficas. Para todos os efeitos, este é apenas o segundo tomo que dão a conhecer ao mundo em formato físico, e nenhum deles é realmente um álbum. Será falta de tempo, perfeccionismo mórbido ou outra coisa qualquer. Não importa. Estão de volta, têm um EP novo e vão andar na estrada (começando já a 12 de Novembro, em Braga).
Liquid Peace é uma pequena mas poderosa bomba. Quatro temas, pouco mais de 20 minutos de um bom e velho rock sónico a tresandar aos anos 90 (é um elogio). A sonoridade remete-nos para os já costumeiros Sonic Youth, naquele seu registo sujo mas melódico, mas ouvimos aqui também Placebo da melhor colheita (e sem a voz enjoativa do Molko) e boas coisas tugas como os Tina and the Top Ten ou os Pinhead Society.
Dentro do grande livro do rock, há para todos os gostos e feitios. Há o rock motoqueiro, há a onda jangly, e há uma angústia urbana que certas bandas conseguem passar no seu som. Os smartini são este último caso. Um carácter poderoso mas com sentimento lá dentro, uma ânsia, uma frustração, uma tensão quase juvenil quando sentimos ou queremos sentir que o mundo está contra nós.
Aqui há rock para inadaptação adolescente feito por adultos que sabem o que estão a fazer. Que nos dá vontade de conduzir rápido à noite ou de apanhar uma bela tosga (não simultaneamente, claro).
Bem hajam, rapazes.