Tenho de começar esta crónica com o facto que mais marca este álbum – a morte do baixista Cliff Burton em Setembro de 1986. Ocorrida em circunstâncias trágicas (autocarro que os transportava na Suécia, durante tour europeia de suporte a Master of Puppets despistou-se), teve naturalmente um impacto brutal nos membros da banda, pairando no ar total incerteza sobre o seu futuro. Tendo em mente que Burton desejaria que os Metallica continuassem, Hetfield, Hammet e Ulrich iniciaram então a procura de um substituto, sendo Jason Newsted o eleito. Talvez pela forma violenta como as coisas aconteceram, ou só por mau feitio dos seus novos parceiros, a vida para Newsted não foi nada fácil, sofrendo nas mãos sobretudo de Hetfield, mas uma coisa fizeram bem – decidiram lançar um EP (The $5.98 E.P.: Garage Days Re-Revisited) para dar ao novo baixista traquejo e assim poder enfrentar a difícil missão de substituir o malogrado Burton em álbum.
Chegamos assim a Agosto de 1988, data de lançamento de …And Justice For All. Por essa altura já havia uma base considerável de fãs à espera, e como tal não foi de estranhar que o álbum se tornasse no maior sucesso comercial da banda até à data, atingindo o sexto posto da tabela Billboard. Mas mais importante que isso, foram introduzidas importantes inovações à música dos Metallica. Se por um lado o grau de complexidade aumentou substancialmente, com paragens e arranques, secções extra a meio de músicas, marcações de tempo ímpares, uma teia de arpeggios de guitarra e variações de intensidade intricadas, tudo coube nas músicas de …And Justice For All. Só há duas músicas com menos de 6 minutos, o que demonstra também a quantidade de elementos que se introduziu em cada uma. Naturalmente que, atingindo este nível de invenção, há muitas alturas que é possível questionar “que raio os fez ir naquela direção?”, sobretudo na música que dá título ao álbum, que com quase 10 minutos é um portento de “vejam lá do que nós somos capazes”. Como podem imaginar, ao vivo algumas destas tornaram-se uma missão impossível de replicar, o que levou a alguma frustação entre a banda com o monstro que tinham criado.
Por outro lado, há que enaltecer o clássico instantâneo que é “One”. Baseado no filme anti-guerra “Johnny Got His Gun” de Dalton Trumbo, começa como balada para se transformar num refrão thrashy, tendo como clímax uma imitação de uma metralhadora infernal, “One” foi à ocasião uma das mais improváveis aparições da banda no Top40, e é tocada ao vivo frequentemente, numa produção à la Hollywood de efeitos pirotécnicos.
Visto por muitos como o pico destes anos progressivos de Metallica, é visto por tantos outros como ambicioso demais e com muitas falhas técnicas, sobretudo o facto do baixo ser quase imperceptível. Opiniões dividem-se, pois. Não sendo um álbum fácil de se ouvir de uma assentada, há que admitir que é mais um marco indelével na carreira da banda e na cena de thrash/heavy metal.