Ryley Walker é um dos guitarristas que mais vem procurando renovar e dialogar com a História da música folk, country e bluegrass americana. Muitas referências têm sido feitas na forma de encarar a sua música, em particular a este Primrose Green, referenciando-se nomes como John Martyn ou Van Morrison. São referências que o próprio Ryley Walker assume. All Kinds of You, o seu primeiro LP a solo, tinha canções mais directas, mais polidas, mas com Primrose Green Ryley Walker quis fazer diferente, expandir o seu som, levá-lo a mais territórios, chamando para si músicos jazz de Chicago e fazendo jams com eles, algo de crucial para levar a sua música a territórios mais híbridos, criando canções mais encorpadas e menos previsíveis.
Porque é de canções que falamos; embora sejam mais extensas que as de All Kinds of You (2014), a maioria não ultrapassa os seis minutos, sendo que apenas quatro das suas dez canções (menos de metade, portanto) ultrapassa os cinco. Uma das mais longas é “Sweet Satisfaction”, curiosamente um dos melhores temas do disco, que tem a precisão e a liberdade que Ryley anda à procura na sua criação musical.
Primrose Green é um disco coerente, com as faixas a relacionarem-se umas com as outras. Como compositor de canções, Ryley tem-se procurado reinventar e sobretudo encontrar, explorando vários territórios e procurando perceber o que funciona melhor. Este disco ainda é uma busca: é um disco com uma identidade demarcada, que se inspira na música feita sobretudo nos anos 70 em solo americano mas que a sabe apropriar de uma forma inventiva, simultaneamente pessoal (porque lhe serve de forma de expressão) e colectiva (pela relação que estabelece com os restantes músicos que tocam no disco, que permite esse som mais desenvolvido e forte face ao que era o seu trabalho anterior).
“The High Road”, um dos melhores temas, parece evocar os fantasmas de Nick Drake, com a sua sonoridade densa e sombria. “Sweet Satisfaction” deixa-se levar pelo poder que é tocar música com outros e abandona-se a esse fervor. Mas é “On The Banks of The Old Kishwaukwee” que mais convence, com a sua sonoridade que lembra a música de Steve Gunn pela forma como, tal como esta, consegue relaxar e criar um estado que em certa medida é letárgico mas que não é nunca monótono ou desleixado. Imaginamos Ryley Walker imerso na composição do tema, num canto qualquer de uma divisão caseira, porque também nós imergimos na música.
É um disco muito interessante, que provavelmente será recordado por melómanos de décadas vindouras, precisamente porque Ryley soube inspirar-se no passado para desenhar um presente diferente, distante da maioria das bandas-sonoras contemporâneas: onde a maioria se quer mostrar extrovertida e comunicar a todo o custo com o outro, a introspecção de Ryley Walker – como de Jessica Pratt, de Tamara Lindeman ou de Steve Gunn, por exemplo – soa-nos demasiado clássica, demasiado nostálgica (e por isso são sempre engavetados no passado, como se olhar para o passado fosse um revivalismo maior que o de forçar uma cópia de um modelo do presente tão gasto que já se torna difícil sair). O facto de não o achar um escritor de canções tão dotado (ou melhor: tão maduro, capaz de dar às palavras um valor singular) quanto os outros músicos americanos referidos não diminui excessivamente uma música cuja estética não é desinteressada nem preguiçosa, mas que é, pela técnica de todos os talentosos músicos que tocam em Primrose Green, recriada com autenticidade e criatividade (e que tem um bom-gosto e uma liberdade que a uns parecerão ultrapassadas, mas que para mim não são mais que uma lufada de ar fresco). Este é um disco feito por músicos que gostam de música e a procuram renovar. E é um disco urbano que conhece bem a importância do espaço e do tempo serem pensados de uma forma própria.
Obrigado Dias, para a próxima já sei. Tens razão quanto a algumas expressões que, se ainda fosse possível editar, seguramente alteraria, mas já não dá. Espero que não o deixes de ouvir por minha causa, abraço!
Gonçalo, esse texto está a precisar de uma revisão do português…se precisares de ajuda mi liga