Bom cartão de visita este, de uma banda que após causar sensação no seu país natal, está a chegar ao resto do mundo.
PRATTS & PAIN é o primeiro longa duração dos Royel Otis, e como tal, antes de ir ao disco em si, importa apresentar a banda. Comecemos pelo nome, que não é mais do que a conjugação dos nomes próprios dos membros do duo, Royel Maddell e Otis Pavlovic. Australianos de Sydney, juntaram-se em 2019 e em Outubro de 2021 lançaram o primeiro de três EP’s com os quais começaram a ganhar atenção, sobretudo pelos singles “Oysters in My Pocket” e “Sofa King”, este último presente também neste disco.
Em cima disto, numa jogada de marketing brilhante, foram chamados a participar num programa na principal rádio australiana, Triple J, só de covers (Like a Version), e escolheram uma das músicas do momento – “Murder on the Dance Floor”, one hit wonder de Sophie Ellis-Bextor que voltou aos tops graças a uma aparição no filme “Saltburn”. O resultado, que podem ver no vídeo abaixo, tem mais de 11M de audições no spotify. Passadeira vermelha estendida, portanto, para se tornarem, como a NME os chamou, “Australia’s next breakout indie heroes”.
Feitas as devidas introduções, debrucemo-nos então sobre PRATTS & PAIN. É um álbum que cativa logo numa primeira audição, pela energia das suas canções iniciais, “Adored” e “Fried Rice” têm riffs com ginga, sintetizadores a provocar movimento de anca, às tantas até sentimos que é 2007 e estamos a descobrir Oracular Spectacular, tal a semelhança. (nem por acaso, os MGMT acabam também de lançar novo álbum). A canção que mais me cativou no discos foi “Sonic Blue”, em registo upbeat e vibrante.
É agora altura de ir à excelente escolha do produtor para PRATTS & PAIN – depois de algumas dúvidas, a escolha recaiu em Dan Carey, que tem criado nome pelo seu trabalho nos discos de Fontaines D.C., Wet Leg e Squid, entre outros. Para cartão de visita, convenhamos que não está nada mau…
Mas, nem tudo são flores. Ali a meio do disco o entusiasmo perde-se, numa espécie de ressaca pós-festa. Em canções como “Velvet”, onde a constante frase “My baby…” às vezes é completada com um pueril “eats me like me a cheese”, noutras com um “spends me on the corner”, e, sobretudo a partir de “Molly”, melodramática mas sem travo, começamos a sentir na boca o sabor a refluxo gastroesofágico, consequência de uma digestão não muito bem feita. Deixamos o disco a correr mas já não se recupera o encanto inicial e facilmente o podemos arquivar como fruta da época.
Veredicto final: se gostam de MGMT, Foals, Harlem, tudo indica que os Royel Otis também vos cativarão. Mas, possivelmente, cedo se dissipará o entusiasmo.