E passado apenas um ano mas o equivalente a uns dez ao nível dos dias de hoje, os Stones foram finalmente vistos como uma banda a ter em conta a nível geral. E tudo isto devido a uma pequena coisa, quase sem relevo algum na música Rock… Essa pequena coisa tinha o nome de “Satisfaction”. E acabando as graçolas, esta é realmente uma das músicas que faz que o Rock deixe de ser de meninos e passe a ser adulto, embora alguns ainda achem que o Rock só se tornou adulto com os The National. Mas Ironias à parte o que realmente interessa referir é que este é o disco em que Stones decidiram ser algo diferente ao que eram antes. Não mais tentaram ser os Beatles, que tentavam entrar à força toda no mercado americano, conseguindo-o em 1964, depois de algumas tentativas frustradas. Não. Os Stones iam tentar entrar no mercado americano por si próprios e pela sua própria tentativa de serem uns ingleses a tentarem ser uns americanos. Não tinham que tentar imitar outros ingleses a tentar ser outros americanos.
Vivíamos em plena British Invasion. Bandas inglesas que descobriam o melhor que a América tinha musicalmente, a maior parte vinda dos músicos negros, e faziam desses sons os seus. Fazendo lembrar ao povo americano o seu legado no Rock. Miúdos brancos a cantar músicas de negros para outros miúdos brancos. Muitos singraram assim. The Animals, The Kinks, Manfred Mann ou os The Pretty Things, entre outros.
Até ao Their Satanic Majesties Request, os Stones, tal como essas britânicas da altura, tiveram edições dos seus discos noutros moldes no mercado americano. Ao contrário dos Beatles que tiveram discos completamente diferentes do mercado inglês, os álbuns dos Stones partilhavam praticamente as mesmas músicas, apenas mudando uma ou outra aqui e ali. E este Out Of Our Heads não é excepção. Aqui falo-vos, naturalmente, da versão americana. A versão que faz dos Rolling Stones a próxima banda a ter em conta devido à inclusão de “Satisfaction” no disco, ao contrário do que tinha sucedido em Inglaterra que apenas tinha saído como single.
O resto do álbum continua a ter vários covers de músicos negros, ídolos de adolescência da banda, tais como “Mercy Mercy” de Don Covay, “Hitch Hike” de Marvin Gaye, música que os Velvet Underground foram buscar para criar “There She Goes Again” do seu primeiro disco. Também presentes estão “Good Times” de Sam Cooke e “That’s How Strong My Love Is”, um clássico de Roosevelt Jamison que ficaria eternizado por Otis Redding. Aliás a versão que Mick Jagger vai buscar é baseada na do inesquecível cantor soul que viria ele também a fazer uma cover fantástica de “Satisfaction”.
A diferença entre os discos anteriores e este é que Out of Our Heads é o disco de transição entre os Stones da invasão britânica e os stones da invasão mundial e da criação do seu próprio rock. A dupla Jagger/Richards começava a descolar do líder e fundador da banda, Brian Jones, e as músicas “The Last Time”, lançada também apenas como single no mercado inglês e, curiosamente, a primeira música a ser um êxito internacional; “Play With Fire”, lançada como B-side de “The Last Time”, mostrou um lado negro a começar a surgir, e, principalmente, “(I Can’t Get No) Satisfaction” eram o exemplo mais cabal disso. “Satisfaction é também a música que faz dos Stones deixar de ser mais uma banda qualquer da dita british invasion e a ter poder de fogo para lutar com os reis Beatles. A partir daqui a história para os Stones mudaria. Mick tornar-se-ia um ícone, um “frontman” quase irresistível e Richards o seu escudeiro de guitarra na mão a distribuir licks e riffs atrás de licks e riffs. Enquanto isso Brian Jones ia entrando num mundo só seu até culminar na sua expulsão da banda e consequente morte, mas isso são histórias dos próximos capítulos…