TROPA MACACA. Como um filme que parece que demora a arrancar mas que, quando damos por nós, já estamos dentro dele. Enganados pelas personagens. Longe de provocarem o ambiente religioso em que os Excepter mais tarde nos envolveriam, não deixaram de me apanhar desprevenido, de olhos fechados, baloiçando, cochilando, o corpo progressivamente amolecido, lembrando-me do meu amigo Vasco que na noite anterior me tinha dado a receita para a boa postura de quem sofre das costas, que é imaginar que esticamos o saco testicular até à nuca – ou seja, por trás, pela espinha fora. Então eu, direito como um tronco, mas abanando como uma vara, os olhos fechados com a força suficiente para ver aquelas formas geométricas que nascem sabe-se lá de onde, testículos na nuca, sentindo-me sempre a chegar a algum lugar, com medo de voltar a abrir os olhos, medo do que encontrar, sempre chegando, como quando voltava de Leiria com os meus pais e ao chegar à minha rua ia acordando pois o meu corpo já conhecia aquelas curvas, aquelas ruas. E de vez em quando lá abria os olhos, num movimento de longos segundos, e lá estavam eles, André Abel também ele sempre de olhos fechados, curtindo a sua guitarra em loops manuais hipnotizantes, Joana da Conceição na electrónica e nos teclados, sempre pronta sujar a métrica com as distorções os espasmos e os efeitos que tivesse mais à mão. Não sei, a mim deu para isto.
Os EXCEPTER apresentam-se como “uma banda de protesto sintético arquitectada para apagar distinções culturais através da confusão polarizada” (tradução livre). Ou seja, a ver se nos entendemos, a ideia de um Tudo pode acontecer parecia a única premissa expectável para quem os visitou na última sexta-feira na ZDB.
Tanto celebrando a indução à dormência como incitando ao abanar da cabeça em modo clubbing (digamos que com uma certa progressão de um para outro), o espectáculo foi uma viagem que foi um sonho que foi um transe que foi um começo que foi um fim. Uma música que parecia estar sempre começar ou a terminar, um aquecimento para o concerto, a ressaca de um concerto. Um convite à alienação encabeçado por essa espécie de street preacher xamânico que é John Fell Ryan, para parafrasear o texto da ZDB de introdução ao concerto. Cantos soturnos ecoados por entre as brumas, detrás do que pareciam decisões à la carte sobre batidas electrónicas que ao longo de várias dezenas de minutos pouco pareciam mudar. Dessa determinação na improvisação os Excepter surpreenderam-me: às tantas o quadro da electricidade foi abaixo, quando voltou eles disseram que iam recomeçar a música, mas nem recomeçaram nem continuaram o que estavam a tocar. Continuaram o espectáculo – isso sim, per se – mas o espectáculo em si não eram batidas ou acordes ou versos ou temas específicos. Era a experiência, foi a experiência de estar ali, de eles estarem ali connosco. Sempre com a hipnose à vista. O que me parece sempre bem. Um exemplo?
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(Fotos: olhos(«Ä»)zumbir)