Pouco passava das 23h00 quando os Glockenwise subiram ao palco do Aquário da Galeria Zé dos Bois, em Lisboa. O mote era a apresentação do novo disco, Heat, lançado este ano. A banda composta por Nuno Rodrigues, Cristiano Veloso, Rafael Ferreira e Rui Fiusa trouxe um elemento extra para o concerto na ZDB. Os Glockenwise enganam na juventude: pese embora a (relativamente) tenra idade, estes quatro rapazes já tocam juntos “há 7 ou 8 anos”, como dizia Nuno Rodrigues durante o concerto. “A sério para aí há seis meses”, diziam, no seu estilo despretensioso: a verdade é que Heat é já o terceiro álbum da banda, depois de Building Waves (2011) e Leeches (2013) – e, como pudemos verificar ao vivo, os Glockenwise amadureceram, musicalmente falando, sem que isso corresponda a um polimento ou aburguesamento da sua música.
Os riffs vindos das guitarras continuam abrasivos, a energia em palco continua a mesma – mas agora mesclada com uma sonoridade mais solene e densa. Os sonhos continuam, e a banda que descrevíamos em 2014 como sendo feita de “matéria rock e nervo punk açucarado” permanece. Mas nota-se que a música dos Glockenwise está mais sólida e densa – sabem hoje dosear melhor a intensidade da sua música, e prolongam mais alguns temas, dando espaço aos instrumentos e à respiração necessária – em disco e em concerto, como notámos. É o crescimento, diríamos.
O concerto até começou “tremido”, com uma das guitarras a evidenciar problemas em palco logo durante o primeiro tema, “Cardinal”, exclusivamente instrumental e com “guitarras até ao caraças”, como diziam numa entrevista ao jornal “Metro”, de 27 de outubro. Dos novos temas destacamos os grandes momentos proporcionados por “Eyes” e pelo single “Heat”, que arrisca conquistar o troféu de melhor canção portuguesa do ano (pelo menos aqui para o vosso escriba); e dos menos recentes, repescados pelos Glockenwise, o single “Leeches” proporcionou outro óptimo momento de comunhão entre público e banda. O concerto, que teve talvez um pouco mais que meia casa, deu-se num registo quase familiar, com direito a agradecimentos de Nuno Rodrigues, que interpelou directamente vários membros da plateia. “É bom ver caras conhecidas, e algumas caras novas”, dizia; e é bom, muito bom ouvir o crescimento dos Glockenwise, passo a passo no rock nacional.