Aos poucos, o Musicbox, que celebrava o terceiro dia da sua festa de aniversário, recuperava cor, recuperava contornos. Os Ermo tinham agitado aquele público que era mais agora que no início, como seria expectável: Os headliners da noite eram os próximos e ninguém queria perder pitada. Quando finalmente a música de elevador, genérica que enche chouriços entre atuações se calou, todos já estávamos à espera que do quarteto maravilha, os Sensible Soccers.
Por entre dificuldades com o som da guitarra de Azevedo e Botelho, “Wild Piano”, do último EP da banda, marca o inicio daquele que seria um verdadeiro “concertaço”. A hipnotizante metronímia do digital com o analógico ia puxando os fios imaginários que ganhámos todos nas ancas. Começavam a sair da toca os primeiros dançarinos arrojados. “Sob Evariste Dibo” foi a cartada que se seguiu, e o ambiente melhorava cada vez mais. As luzes quentes, o ritmo intoxicante e a vontade de mexer contagiavam-nos a todos. Para quem estava ali não havia chuva nem frio: estávamos numa esplanada solarenga de refresco em riste a ver miúdas giras a passar. O ritmo alegre e acolhedor não parou, foi crescendo mais e mais, as bebidas iam rolando, e o psicadelismo dançante dos mais desenvergonhados ia-se acentuando. Estava um ambiente excecional. Íamos ouvindo coisas novas (não fosse este um evento também de introdução ao mais recente trabalho dos rapazes do futebol sensível), os velhos clássicos como “Eurobonds” e “Zaire” faziam furor nos muitos groupies que iam atirando larachas ao estilo “private joke” ao qual a banda ia respondendo com sorrisos cúmplices e boa disposição. Sempre. Boa disposição sempre.
Por entre cigarros oferecidos ao publico e um aviso triste de que “ia acabar na próxima música”, os sortudos que ali estavam, em plena trip musical, apercebiam-se que era para aproveitar os “últimos cartuchos”: “Sofrendo por você” iria então fechar a atuação com chave de ouro. O primeiro single do novo álbum, que à porta já estava à venda (em formato especial de cassete), pôs toda a gente a reeditar os espetaculares passos de dança que o videoclip da mesma música trouxe ao mundo: Só faltou mesmo haver alguém no palco a agitar-se como em Paredes houve. Malta mais velha, miúdos novos, homens e mulheres não conseguiam não gingar, não conseguiam não viver no corpo o que aquela música nos dava: alegria introspectivas e reconfortante que nos pôs mais que bem-dispostos.
Acabou o concerto: o público pedia mais, pelo menos um encore, mas a banda estava reticente. Já com alguns assobios a ressoa
rem pelo palco vazio, Hugo Gomes veio educadamente falar connosco: “Dado que estamos a recomeçar a tocar ao vivo, ainda não temos muito mais coisas que possamos tocar para vocês, mas podemos repetir alguma, pode ser?”. Como uma oferta destas como podíamos dizer que não. Contrariando a reticência de Botelho, tivemos direito à uma nova canção… ninguém se importou que fosse repetida.
Numa noite de dualidades, onde passamos das trevas para o solarengo verão, seria criminoso não dizer que foi mais uma grande noite no Musicbox. Ficaremos à espera de mais.