
No quarto dia da quinta edição do Misty Fest, o festival fez subir ao palco um nome que andas nas lides da música portuguesa desde os anos 80, o músico e compositor Rodrigo Leão que veio apresentar o seu mais recente trabalho, Espírito de Um País.
Leão foi um dos fundadores dos Sétima Legião, bem como dos Madredeus, em 1982 e 1985, respectivamente. Em 1993 estreia-se a solo com Ave Mundi Luminar e, desde então, Rodrigo Leão foi responsável por álbuns incontornáveis da música portuguesa e bandas sonoras inesquecíveis. Recentemente foi agraciado com a oportunidade de compor um tema alusivo à celebração dos 40 anos da Revolução dos Cravos, que intitulou de “O Espírito de um País”. Foi este trabalho que o músico veio apresentar nesta noite no CCB.
A simplicidade do palco é absoluta. Seis cadeiras distribuídas em meia-lua, um teclado, um metalofone e algumas folhas no chão. Uma voz-off informa-nos que o espectáculo irá começar, sem esquecer de anunciar os patrocinadores. As luzes apagam-se e os músicos surgem em palco, levando os seus instrumentos. A primeira a entrar em palco é Celina da Piedade e o seu acordeão; segue-se depois um quarteto de cordas composto por dois violinos, um violoncelo e uma guitarra de arco. No final deste ensemble vem Rodrigo Leão que se senta frente às suas teclas, pronto para iluminar a noite de todos com a sua música.
Durante a hora e meia que se seguiria, Rodrigo Leão e o seu quinteto apresentar-nos-iam composições do seu último trabalho em que encontramos elementos de sinfonias, música de câmara, fado, valsa, tango e até mesmo poesia. Ao longo do concerto era quase impossível não pensar que todas estas composições poderiam figurar numa banda sonora de um grande filme e até há exemplos em que imaginamos cenas icónicas a enquadrarem-se na música que ouvimos. Durante «O Tango dos Malandros», se nos esforçássemos, quase que conseguíamos ver o Tenente-Coronel Frank Slade a conduzir Donna por uma pista de dança.
Rodrigo Leão faz uma pausa para anunciar o seu convidado especial “Que dispensa apresentações”, Camané. O fadista, que não sabe soar mal, presenteou-nos com quatro canções. Entre elas encontrava-se «Uma Vez que Já Tudo se Perdeu», poema de Ruy Belo que aparece na sua obra Homem de Palavra[s] e que Camané recitou sem qualquer falha!
A voz da Camané não foi a única a ser ouvida, no entanto. Houve também tempo para ouvir Celina da Piedade a interpretar duas músicas de Madredeus, «Guitarra» e «Alfama». Um presente de Leão para a sua audiência que pôde relembrar os temas deste projecto tão emblemático.
Rodrigo Leão e amigos despediram-se da audiência, mas houve ainda tempo para um encore, após muitos aplausos e assobios. Camané regressou ao palco para ajudar o sexteto, sendo ainda tocadas três músicas.
Chegou por fim o derradeiro momento da despedida e a sala aos poucos foi-se esvaziando. O concerto tinha chegado ao fim e maior parte dos felizardos que puderam assistir ao concerto saíram para o frio com um simples pensamento: “Ah, Leão!”
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Fotos: Francisco Fidalgo